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Quadras de António Aleixo
Meus versos, que dizem eles que façam mal a alguém?... Só fazem mal àqueles A quem podem ficar bem! Contigo em contradição Pode estar um grande amigo; Duvida mais dos que estão Sempre de acordo contigo. Eu não tenho vistas largas, Nem grande sabedoria, Mas dão-me as horas amargas Lições de filosofia. Não te quero converter, Mas quero ver se consigo Fazer-te compreender Aquilo que não te digo. A vida na grande terra Corrompe a humanidade Entre a cidade e a serra Prefiro a serra à cidade Bate a fome à porta deles E é lá mais mal recebida Do que na casa daqueles Que a sofreram toda a vida O homem sonha acordado Sonhando a vida percorre E desse sonho dourado Só acorda quando morre Foste beijar o menino Quando afinal eu vi bem Que beijaste o pequenino Porque gostavas da mãe Só desejo dar um beijo No rosto duma mulher Se for maior o desejo Do que o beijo que eu lhe der. Sei que pareço um ladrão... mas há muitos que eu conheço que, sem parecer o que são, são aquilo que eu pareço.
António Aleixo
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in. " este livro Que Vos Deixo "
Quem me vê dirá: não presta,
nem mesmo quando lhe fale,
porque ninguém traz na testa
o selo de quanto vale.
Não vás contar a ninguém
as histórias que não sabes;
nem assim entrarás bem
no lugar em que não cabes.
Deixam-me sempre confuso
as tuas palavras boas,
por não te ver fazer uso
dessa moral que apregoas.
São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós;
às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão, mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
Inteligências há poucas.
Quase sempre as violências
nascem das cabeças ocas,
por medo às inteligências.
Pra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Para triunfar depressa,
cala contigo o que vejas
e finge que não te interessa
aquilo que mais desejas.
Ti, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes - esqueceste
tudo quanto prometias...
Os que bons conselhos dão
às vezes fazem-me rir,
- por ver que eles próprios são
incapazes de os seguir.
Não sou esperto nem bruto
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
Os meus versos o que são?
Devem ser, se os não confundo,
pedaços do coração
que deixo cá neste mundo.
Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Coo mundo pouco te importas
porque julgas ves direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê em seu proveito?
Descreio dos que me apontem
uma sociedade sã:
isto é hoje o que foi ontem
e o que há-de ser amanhã.
Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos que pode o povo
qurer um mundo novo a sério.
Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande
façam das mil pequeninas
uma só doutrina grande.
O meu mais puro sorriso
eu não o mostro a ninguém;
mas sei rir, quando preciso,
a quem me sorri também
Se o hábito faz o monge
e o mundo quer-se iludido,
que dirá quem vê de longe
um gatuno bem vestido?
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
Nas quadras que a gente vê,
quase sempre o mais bonito
está guardado pra quem lê
o que lá não stá escrito.
Meus versos que dizem eles
que façam mal a alguém?
Só se fazem mal àqueles
a quem podem ficar bem.
Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
- digo verdades a rir
aos que me mentem a sério!
António Aleixo ( Quadras Populares ) | | |
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1
Quem me vê dirá: não presta,
nem mesmo quando lhe fale,
porque ninguém traz na testa
o selo de quanto vale.
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Não vás contar a ninguém
as histórias que não sabes;
nem assim entrarás bem
no lugar em que não cabes.
3
Deixam-me sempre confuso
as tuas palavras boas,
por não te ver fazer uso
dessa moral que apregoas.
4
São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós;
às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.
5
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão, mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
6
Inteligências há poucas.
Quase sempre as violências
nascem das cabeças ocas,
por medo às inteligências.
7
Pra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
8
Para triunfar depressa,
cala contigo o que vejas
e finge que não te interessa
aquilo que mais desejas.
9
Ti, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes - esqueceste
tudo quanto prometias...
10
Os que bons conselhos dão
às vezes fazem-me rir,
- por ver que eles próprios são
incapazes de os seguir.
11
Não sou esperto nem bruto
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
12
Os meus versos o que são?
Devem ser, se os não confundo,
pedaços do coração
que deixo cá neste mundo.
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António Aleixo
1899-1949
Quadras V
São parvos, não rias deles, deixa-os ser, que não são sós; às vezes rimos daqueles que valem mais do que nós
***
Há luta por mil doutrinas. Se querem que o mundo ande, Façam das mil pequeninas Uma só doutrina grande
***
Coo mundo pouco te importas porque julgas ver direito. Como há-de ver coisas tortas quem só vê o seu proveito?
***.
És feliz, vives na alta e eu de ratos como a cobra. Porquê? Porque tens de sobra o pão que a tantos faz falta.
*** Vós que lá do vosso império prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo qrer um mundo novo a sério.
***
Peço às altas competências Perdão, porque mal sei ler, P’ra aquelas deficiências Que os meus versos possam ter.
***
Quando não tenhas à mão Outro livro mais distinto, Lê estes versos que são Filhos das mágoas que sinto.
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António Aleixo
Quadras VII
Quem prende a água que corre É por si próprio enganado; O ribeirinho não morre, Vai correr por outro lado.
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Não há nenhum milionário que seja feliz como eu: tenho como secretário um professor do liceu.
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De vender a sorte grande, confesso, não tenho pena; que a roda ande ou desande eu tenho sempre a pequena.
***.
Fui polícia, fui soldado, estive fora da nação; vendo jogo, guardo gado, só me falta ser ladrão.
*** Falemos sinceramente, Como pra nós mesmos, a sós; Lá longe de toda a gente, Do mundo, e até de nós
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Após um dia tristonho de mágoas e agonias vem outro alegre e risonho: são assim todos os dias
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Quadras
António Aleixo
Tem a música o poder De tornar o homem feliz; Nem há quem saiba dizer Tanto quanto ela nos diz.
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Não sou esperto nem bruto, Nem bem nem mal educado: Sou simplesmente o produto Do meio em que fui criado.
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Ao chamar-te inteligente, Ficaste desconfiado. Por ser um nome diferente Dos que te têm chamado.
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Se umas quadras são conselhos Que vos dou de boa fé; Outras são finos espelhos Onde o leitor vê quem é.
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Contigo em contradição Pode estar um grande amigo; Duvida mais dos que estão Sempre de acordo contigo.
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Entre leigos ou letrados, Fala só de vez em quando, Que nós, às vezes, calados, Dizemos mais que falando.
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ANTÓNIO ALEIXO (1899 - 1949)
QUADRAS POPULARES
X
Forçam-me, mesmo velhote, de vez em quando, a beijar a mão que brande o chicote que tanto me faz penar. Porque o mundo me empurrou, caí na lama, e então tomei-lhe a cor, mas não sou a lama que muitos são.
Eu não tenho vistas largas, nem grande sabedoria, mas dão-me as horas amargas lições de filosofia. à guerra não ligues meia, porque alguns grandes da terra, vendo a guerra em terra alheia, não querem que acabe a guerra Vós que lá do vosso império prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo qurer um mundo novo a sério.
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MOTE
Um pobre velho perdido à minha porta parou; Foi no meu lar acolhido Até que a morte o levou.
GLOSAS
Em noite chuvosa e fria Sem haver estrelas nem lua Encontrei na minha rua Alguém que esperava o dia E eu, que não o conhecia, Passei muito distraído Sem ver que aquele indivíduo Tinha aspecto de mendigo E que era, assim sem abrigo, Um pobre velho perdido.
Estava a uma porta arrumado Com as mãos nas algibeiras Mas a água das goteiras Molhava o pobre, coitado... Entrei em casa magoado E o infeliz lá ficou... Mas logo um trovão soou E o pobre, a tremer de susto, Vem correndo muito a custo E à minha porta parou...
Eu ordenei-lhe que entrasse E o filho da pouca sorte Tinha a figura da morte Na sua pálida face Disse à mulher que arranjasse Ceia pra o desconhecido E ele então, de agradecido, Entre soluços dizia Que, quando tanto chovia, Foi no meu lar acolhido.
Depois o pobre, a tremer, De um dos bolsos do seu fato Tirou pra fora um retrato Que era o de minha mulher Chamei-a... veio a correr Logo ao pobre se abraçou Pois era o Pai que a criou Que chegou àquele estado. E ali foi agasalhado Até que a morte o levou.
António Aleixo (em "Este Livro Que Vos Deixo") | | | |
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ANTÓNIO ALEIXO
QUADRAS POPULARES ( 1 )
Forçam-me, mesmo velhote, de vez em quando, a beijar a mão que brande o chicote que tanto me faz penar. Porque o mundo me empurrou, caí na lama, e então tomei-lhe a cor, mas não sou a lama que muitos são.
Eu não tenho vistas largas, nem grande sabedoria, mas dão-me as horas amargas lições de filosofia.
à guerra não ligues meia, porque alguns grandes da terra, vendo a guerra em terra alheia, não querem que acabe a guerra
Vós que lá do vosso império prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo qurer um mundo novo a sério.
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QUADRAS POPULARES ( 2 )
António Aleixo
Que importa perder a vida em luta contra a traição, se a Razão mesmo vencida, não deixa de ser Razão?
Pra mentira ser segura e atingir profundidade, tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade.
Sei que pareço um ladrão... mas há muitos que eu conheço que, não parecendo o que são, são aquilo que eu pareço.
Enquanto o homem pensar que vale mais que outro homem, são como os cães a ladrar, não deixam comer, nem comem.
Eu já não sei o que faça pra juntar algum dinheiro; se se vendesse a desgraça já hoje eu era banqueiro.
A vida na grande terra corrompe a humanidade. Entre a cidade e a serra prefiro a serra à cidade. O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
- quando consigas fazer mais plos outros que por ti!
Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são maiores querem parecer.
Bate a fome à porta deles
e é lá mais mal recebida
do que na casa daqueles que a sofreram toda a vida.
Uma mosca sem valor
poisa, co a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria. Para não fazeres ofensas
e teres dias felizes,
não digas tudo o que pensas,
mas pensa tudo o que dizes.
Num arranco de loucura,
filha desta confusão,
vai todo o mundo à procura daquilo que tem à mão.
Vinho que vai para vinagre
não retrocede o caminho;
só por obra de milagre,
pode de novo ser vinho.
Entre leigos ou letrados,
fala só de vez em quando,
que nós, às vezes, calados, dizemos mais que falando.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Quando te vês mal, e dizes
que preferias a morte,
pensa que outros menos felizes invejam a tua sorte.
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Quadras VIII
António Aleixo
Tu não tens valor nenhum, Andas debaixo dos pés, Até que apareça algum Doutor que diga quem és.
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à guerra não ligues meia, Porque alguns grandes da terra, Vendo a guerra em terra alheia, Não querem que acabe a guerra.
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Depois de tanta desordem, Depois de tam dura prova, Deve vir a nova ordem, Se vier a ordem nova
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Eu não sei porque razão Certos homens, a meu ver, Quanto mais pequenos são Maiores querem parecer.
*** Vemos gente bem vestida, No aspecto desassombrada; São tudo ilusões da vida, Tudo é miséria dourada.
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Os novos que se envaidecem P’lo muito que querem ser São frutos bons que apodrecem Mal começam a nascer.
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