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DEUSA SERENA
Espiritualizante Formosura Gerada nas Estrelas impassíveis, Deusa de formas bíblicas, flexíveis, Dos eflúvios da graça e da ternura.
Açucena dos vales da Escritura, Da alvura das magnólias marcessíveis, Branca Via-Láctea das indefiníveis Brancuras, fonte da imortal brancura.
Não veio, é certo, dos pauis da terra Tanta beleza que o teu corpo encerra, Tanta luz de luar e paz saudosa...
Vem das constelações, do Azul do Oriente, Para triunfar maravilhosamente Da beleza mortal e dolorosa!
Cruz e Souza
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“ Piedade "
( Cruz e Sousa - Biografia - 1862/1898 )
“ O coração de todo o ser humano Foi concebido para ter piedade, Para olhar e sentir com caridade Ficar mais doce o eterno desengano.
Para da vida em cada rude oceano Arrojar, através da imensidade, Tábuas de salvação, de suavidade, De consolo e de afeto soberano.
Sim ! Que não ter um coração profundo É os olhos fechar à dor do mundo, Ficar inútil nos amargos trilhos.
É como se o meu ser compadecido Não tivesse um soluço comovido Para sentir e para amar meus filhos ! ”
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Cristo de bronze
Cruz e Souza
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata,
Cristos ideais, serenos, luminosos,
Ensangüentados Cristos dolorosos
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata.
Ó Cristos de altivez intemerata,
Ó Cristos de metais estrepitosos
Que gritam como os tigres venenosos
Do desejo carnal que enerva e mata.
Cristos de pedra, de madeira e barro...
Ó Cristo humano, estético, bizarro,
Amortalhado nas fatais injurias...
Na rija cruz aspérrima pregado
Canta o Cristo de bronze do Pecado,
Ri o Cristo de bronze das luxúrias!...
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Cárcere das Almas
Cruz e Sousa (1861 - 1898)
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves, Que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?!
Publicado no livro Últimos Sonetos (1905).
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Escárnio perfumado
Cruz e Sousa
Quando no enleio De receber umas notícias tuas, Vou-me ao correio, Que é lá no fim da mais cruel das ruas,
Vendo tão fartas, Duma fartura que ninguém colige, As mãos dos outros, de jornais e cartas E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...
E em tom de mofa, Julgo que tudo me escarnece, apoda, Ri, me apostrofa,
Pois fico só e cabisbaixo, inerme, A noite andar-me na cabeça, em roda, Mais humilhado que um mendigo, um verme
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O Mar
Cruz e Sousa
Que nostalgia vem das tuas vagas, Ó velho mar, ó lutador oceano! Tu de saudades íntimas alagas O mais profundo coração humano. Sim! Do teu choro enorme e soberano, Do teu gemer nas desoladas plagas, Sai o quer que é, rude sultão ufano, Que abre nos peitos verdadeiras chagas.
Ó mar! ó mar! embora esse eletrismo, Tu tens em ti o gérmen do lirismo, És um poeta lírico demais.
E eu para rir com bom humor das tuas Nevroses colossais, bastam-me as luas Quando fazem luzir os seus metais.
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27 de dezembro de 1890
Repassando de :
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A Harpa (Cruz e Sousa) Prende, arrebata, enleva, atrai, consola A harpa tangida por convulsos dedos, Vivem nela mistérios e segredos, É berceuse, é balada, é barcarola.
Harmonia nervosa que desola, Vento noturno dentre os arvoredos A erguer fantasmas e secretos medos, Nas suas cordas um soluço rola...
Tualma é como esta harpa peregrina Que tem sabor de música divina E só pelos eleitos é tangida.
Harpa dos céus que pelos céus murmura E que enche os céus da música mais pura, como de uma saudade indefinida.
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Aspiração Suprema
Como os cegos e os nus pede um abrigo A alma que vive a tiritar de frio. Lembra um arbusto frágil e sombrio Que necessita do bom sol amigo.
Tem ais de dor de trêmulo mendigo Oscilante, sonmbulo, erradio. É como um tênue, cristalino fio Destrelas, como etéreo e louro trigo.
E a alma aspira o celestial orvalho, Aspira o céu, o límpido agasalho, sonha, deseja e anseia a luz do Oriente...
Tudo ela inflama de um estranho beijo. E este Anseio, este Sonho, este Desejo Enche as Esferas soluçantemente.
Cruz e Souza
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SONHADOR
Por sóis, por belos sóis alvissareiros, Nos troféus do teu Sonho irás cantando As púrpuras romanas arrastando, Engrinaldado de imortais loureiros.
Nobre guerreiro audaz entre os guerreiros, Das Idéias as lanças sopesando, Verás, a pouco e pouco, desfilando Todos os teus desejos condoreiros...
Imaculado, sobre o lodo imundo, Há de subir, com as vivas castidades, Das tuas glórias o clarão profundo.
Há de subir, além de eternidades, Diante do torvo crocitar do mundo, Para o branco Sacrário das Saudades!
Cruz e Souza
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Clamando...
Cruz e Souza
Bárbaros vãos, dementes e terríveis
Bonzos tremendos de ferrenho aspeto,
Ah! deste ser todo o clarão secreto
Jamais pôde inflamar-vos, Impassíveis!
Tantas guerras bizarras e incoercíveis
No tempo e tanto, tanto imenso afeto,
São para vós menos que um verme e inseto
Na corrente vital pouco sensíveis.
No entanto nessas guerras mais bizarras
De sol, clarins e rútilas fanfarras,
Nessas radiantes e profundas guerras...
As minhas carnes se dilaceraram
E vão, das llusões que flamejaram,
Com o próprio sangue fecundando as terras...
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A Harpa (Cruz e Sousa) Prende, arrebata, enleva, atrai, consola A harpa tangida por convulsos dedos, Vivem nela mistérios e segredos, É berceuse, é balada, é barcarola.
Harmonia nervosa que desola, Vento noturno dentre os arvoredos A erguer fantasmas e secretos medos, Nas suas cordas um soluço rola...
Tualma é como esta harpa peregrina Que tem sabor de música divina E só pelos eleitos é tangida.
Harpa dos céus que pelos céus murmura E que enche os céus da música mais pura, como de uma saudade indefinida.
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Sonhador
Cruz e Souza
SONHO
Por sóis, por belos sóis alvissareiros,
Nos troféus do teu Sonho irás cantando
As púrpuras romanas arrastando,
Engrinaldado de imortais loureiros.
Nobre guerreiro audaz entre os guerreiros,
Das Idéias as lanças sopesando,
Verás, a pouco e pouco, desfilando
Todos os teus desejos condoreiros...
Imaculado, sobre o lodo imundo,
Há de subir, com as vivas castidades,
Das tuas glórias o clarão profundo.
Há de subir, além de eternidades,
Diante do torvo crocitar do mundo,
Para o branco Sacrário das Saudades!
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Múmia
Cruz e Souza
Múmia de sangue e lama e terra e treva,
Podridão feita deusa de granito,
Que surges dos mistérios do Infinito
Amamentada na lascívia de Eva.
Tua boca voraz se farta e ceva
Na carne e espalhas o terror maldito,
O grito humano, o doloroso grito
Que um vento estranho para és limbos leva.
Báratros, criptas, dédalos atrozes
Escancaram-se aos tétricos, ferozes
Uivos tremendos com luxúria e cio...
Ris a punhais de frígidos sarcasmos
E deve dar congélidos espasmos
O teu beijo de pedra horrendo e frio!...
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BROQUÉIS
Cruz e Sousa
Seigneur mon Dieu! accordez-moi
la grce de produire quelques
beaux vers qui me prouvent
à moi-même que je ne suis pas le
dernier des hommes, que je
ne suis pas inférieur à ceux que
je méprise.
Baudelaire
Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cnticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, sodas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rime clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passe
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, nsias, alentos,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios.....
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
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Monja
Cruz e Souza
Ó Lua, Lua triste, amargurada,
Fantasma de brancuras vaporosas,
A tua nívea luz ciliciada
Faz murchecer e congelar as rosas.
Nas flóridas searas ondulosas,
Cuja folhagem brilha fosforeada,
Passam sombras angélicas, nivosas,
Lua, Monja da cela constelada.
Filtros dormentes dão aos lagos quietos,
Ao mar, ao campo, os sonhos mais secretos,
Que vão pelo ar, noctmbulos, pairando...
Então, ó Monja branca dos espaços,
Parece que abres para mim os braços,
Fria, de joelhos, trêmula, rezando...
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Siderações
Cruz e Souza
Para as Estrelas de cristais gelados
As nsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...
Num cortejo de cnticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo...
Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta...
E as nsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta...
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