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Poema à boca fechada
Não direi: Que o silêncio me sufoca e amordaça. Calado estou, calado ficarei, Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam, Se represam, cisterna de águas mortas, Ácidas mágoas em limos transformadas, Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi: Que nem sequer o esforço de as dizer merecem, Palavras que não digam quanto sei Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas, Nem só animais bóiam, mortos, medos, Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi, Crispadamente recolhido e mudo, Que quem se cala quando me calei Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)
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José Saramago
Na ilha por vezes habitada
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer. Então sabemos tudo do que foi e será. O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam. Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura. Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites. Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela. Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz. Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste.
(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)
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Jose Saramago
"Como será possível acreditar num Deus
criador do Universo, se o mesmo Deus
criou a espécie humana? Por outras
palavras, a existência do homem,
precisamente, é o que prova a
inexistência de Deus."
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O Evangelho Segundo Jesus Cristo
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Levantado do Chão
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Levantado do Chão foi escrito em 1980 e significa um ponto de mudança dentro da obra de Saramago. Saramago nos fala que todos os seus livro são pontos de mudança, mas com certeza ele jamais poderia negar a importncia de Levantado do Chão. É nessa obra que Saramago rompe com a escrita ordinária e insere-se numa prosa barroca, num discurso cinematográfico, numa tendência a digressões e numa postura comprometida, como nos conta Horácio Costa em José Saramago - O período formativo. Levantado nasce da convivência de alguns meses com os trabalhadores da União Cooperativa de Produção Boa Esperança, quando muda-se para Lavre e Montemor-O-Novo. Segundo ele próprio, Levantado do Chão, é uma obra que representa o povo do Alentejo, melhor que seja o próprio povo do Alentejo. Mas para nós, brasileiros e para todos que vive onde há a opressão dos ricos (latifundiários) contra os pobres (camponeses), sabe do que Saramago fala, e se emociona sem que tenha que ter vivido uma experiência semelhante.
Saramago escreveu O Evangelho em 1991, e essa foi, sem dúvida, a obra mais polêmica do escritor português. O título do livro veio de um “olhada” errada para uma banca de revista. Como o próprio Saramago conta, ele passa por uma rua quando, ao olhar para uma banca, viu numa manchete de jornal, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, parou, coçou os olhos e voltou. Não estava mais lá. Mas a idéia nunca mais saiu-lhe da cabeça. Por fim, acabou por escreve-la. O Evangelho causou polêmica porque conta a história de Jesus Cristo como a história de um homem qualquer, uma homem com suas paixões e com seus pecados, vide o parte em que Jesus passa uma semana trancado com Madalena dentro da cabana dela. Essa é a história do Jesusu que antes de ser o filho de Deus é o filho do homem José e da mulher Maria. E essa humanização de Jesus causou um mal-estar no seio de toda a sociedade portuguesa como um todo, não só dentro da Igreja Católica, como seria mais coerente imaginar. Contudo o mais interessante dessa obra a lição que Saramago nos passa. José Paulo Paes conta que na orelha do livro que para que as histórias permaneçam vivas é preciso reconta-las. É isso que Saramago faz. Reconta uma história que sempre nos foi contada com verdadeira como os olhos de um homem que não é obrigado a reproduzir ipsi verbis o que lhe foi uma vez contado. A lição é a seguinte: não temos que necessariamente acreditar naquilo que nos é dito, devemos pensar sempre sobre o que nos foi dito.
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