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Os versos que te fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros Que a minha boca tem pra te dizer! São talhados em mármore de Paros Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros, São como sedas pálidas a arder... Deixa dizer-te os lindos versos raros Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda... Que a boca da mulher é sempre linda Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei... E nesse beijo, Amor, que eu te não dei Guardo os versos mais lindos que te fiz!
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Enviado: 29/11/2009 21:48 |
Florbela Espanca
Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste: "Parece Sexta-Feira de Paixão. Sempre a cismar, cismar de olhos no chão, Sempre a pensar na dor que não existe...
O que é que tem?! Tão nova e sempre triste! Faça por estar contente! Pois então?!..." Quando se sofre, o que se diz é vão... Meu coração, tudo, calado, ouviste...
Os meus males ninguém mos adivinha... A minha Dor não fala, anda sozinha... Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!...
Os males de Anto toda a gente os sabe! Os meus ..ninguém... A minha Dor não cabe Em cem milhões de versos que eu fizera!...
Formatação : Marte/JCarvalho
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Florbela Espanca - O Livro das Mágoas
A minha Dor é um convento ideal Cheio de claustros, sombras, arcarias, Aonde a pedra em convulsões sombrias Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias Ao gemer, comovidos, o seu mal… E todos têm sons de funeral Ao bater horas, no correr dos dias…
A minha Dor é um convento. Há lírios Dum roxo macerado de martírios, Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro, Noites e dias rezo e grito e choro, E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…
Formatação : Marte/JCarvalho
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[Florbela Espanca]
Andas dum lado pro outro Pela rua passeando; Finges que não queres ver Mas sempre me vais olhando. É um olhar fugidio, Olhar que dura um instante, Mas deixa um rasto de estrelas O doce olhar saltitante… É esse rasto bendito Que atraiçoa o teu olhar, Pois é tão leve e fugaz Que eu nem o sinto passar! Quem tem uns olhos assim E quer fingir o desdém, Não pode nem um instante Olhar os olhos d’alguém… Por isso vai caminhando… E se queres a muita gente Demonstrar que me desprezas Olha os meus olhos de frente! …
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A minha gratidão Florbela Espanca
Canção grata Por tudo o que me deste inquietação cuidado um pouco de ternura é certo mas tão pouca Noites de insônia Pelas ruas como louca Obrigada, obrigada Por aquela tão doce e tão breve ilusão Embora nunca mais Depois de que a vi desfeita Eu volte a ser quem fui Sem ironia aceita A minha gratidão
Que bem que me faz agora o mal que me fizeste Mais forte e mais serena E livre e descuidada Sem ironia amor obrigada Obrigada por tudo o que me deste Por aquela tão doce e tão breve ilusão Embora nunca mais Depois de que a vi desfeita Eu volte a ser quem fui Sem ironia aceita A minha gratidão.
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IMPOSSÍVEL
Disseram-me hoje, assim ao ver-me triste :
« Parece sexta-feira de Paixão.
Sempre a cismar, cismar de olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe...
O que é que tem ?! Tão nova e sempre triste !
Faça por estar contente ! Pois então ?!...»
Quando se sofre, o que se diz é vão...
Meu coração, tudo, calado, ouviste...
Os meus males ninguém mos adivinha...
A minha Dor não fala, anda sózinha...
Dissesse ela o que sente ! Ai quem me dera !...
Os males de Auto toda a gente os sabe !
Os meus...ninguém...A minha Dor não cabe
Nos cem milhões de versos que eu fizera !...
Florbela Espanca
Soneto extraído do " Livro de Mágoas "
Partilhando o meu Sorriso
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O Nosso livro
Livro do meu amor, do teu amor, Livro do nosso amor, do nosso peito… Abre-lhe as folhas devagar, com jeito, Como se fossem pétalas de flor.
Olha que eu outro já não sei compor Mais santamente triste, mais perfeito Não esfolhes os lírios com que é feito Que outros não tenho em meu jardim de dor!
Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu! Num sorriso tu dizes e digo eu: Versos só nossos mas que lindos sois!
Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente Dirá, fechando o livro docemente: “Versos só nossos, só de nós os dois!…”
Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade
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FRAGMENTO
Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo! Colhe a hora que passa, hora divina, bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
E à volta, Amor... tornemos, nas alfombras Dos caminhos selvagens e escuros, Num astro só as nossas duas sombras...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços... E é como um cravo ao sol a minha boca... Quando os olhos se me cerram de desejo... E os meus braços se estendem para ti...
Tenho por ti uma paixão Tão forte tão acrisolada, Que até adoro a saudade Quando por ti é causada
(Florbela Espanca)
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Esquecimento
Esse de quem eu era e que era meu, Que foi um sonho e foi realidade, Que me vestiu a alma de saudade, Para sempre de mim desaparceu. Tudo em redor então escureceu, E foi longínqua toda a claridade! Ceguei... tateio sombras... Que ansiedade! Apalpo cinzas porque tudo ardeu! Descem em mim poentes de Novembro... A sombra dos meus olhos a escurecer... Veste de roxo e negro os crisantemos... E desse que era meu já não me lembro... Ah, a doce agonia de esquecer A lembrar doidamente o que esquecemos!
Florbela Espanca | | | | | |
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Fumo
Florbela Espanca
Longe de ti são ermos os caminhos, Longe de ti não há luar nem rosas, Longe de ti há noites silenciosas, Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos Perdidos pelas noites invernosas... Abertos, sonham mãos cariciosas, Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram... Há crisntemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, ó meu Amor, pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos!...
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Se tu viesses ver-me hoje à tardinha
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus barcos...
Quando me lembra: esse sabor que tinha A tua boca... o eco dos teus passos... O teu riso de fonte... os teus abraços... Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca, Traça as linhas dulcíssimas dum beijo E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca... Quando os olhos se me cerram de desejo... E os meus braços se estendem para ti...
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Vozes Do Mar
Quando o sol vai caindo sobre as águas Num nervoso delíquio d’oiro intenso, Donde vem essa voz cheia de mágoas Com que falas à terra, ó mar imenso?...
Tu falas de festins, e cavalgadas De cavaleiros errantes ao luar? Falas de caravelas encantadas Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos depopeias?Tens anseios Damarguras? Tu tens também receios, Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz,ó mar amigo?... ... Talvez a voz do Portugal antigo, Chamando por Camões numa saudade!
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Florbela Espanca
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Primavera (Florbela Espanca)
É Primavera agora, meu Amor! O campo despe a veste de estamenha; Não há árvore nenhuma que não tenha O coração aberto, todo em flor!
Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor Da vida... não há bem que nos não venha Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha! Não há bem que não possa ser melhor!
Também despi meu triste burel pardo, E agora cheiro a rosmaninho e a nardo E ando agora tonta, à tua espera...
Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos... Parecem um rosal! Vem desprendê-los! Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...
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Meu Amor
De ti somente um nome sei, Amor, É pouco, é muito pouco e é bastante Para que esta paixão doida e constante Dia após dia cresça com vigor!
Como de um sonho vago e sem fervor nasce assim uma paixão tão inquietante! Meu doido coração triste e amante Como tu buscas o ideal na dor!
Isto era só quimera, fantasia, Mágoa de sonho que se esvai num dia, Perfume leve dum rosal do céu...
Paixão ardente, louca isto é agora, Vulcão que vai crescendo hora por hora... O meu amor, que imenso amor o meu!
Florbela Espanca
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Em Busca Do Amor
Florbela Espanca
O meu Destino disse-me a chorar: "Pela estrada da Vida vai andando, E, aos que vires passar, interrogando Acerca do Amor, que hás-de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar, As contas de meu sonho desfiando... E noite e dia, à chuva e ao luar, Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei: "Velhinho, Viste o Amor acaso em teu caminho?" E o velho estremeceu... olhou... e riu...
Agora pela estrada, já cansados, Voltam todos pra trás desanimados... E eu paro a murmurar: "Ninguém o viu!..." | | | | | | | | | | | | | | |
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A VIDA
É vão o amor, o ódio, ou o desdém; Inútil o desejo e o sentimento... Lançar um grande amor aos pés de alguém O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo Pedro Sem, Uma alegria é feita dum tormento, Um riso é sempre o eco dum lamento, Sabe-se lá um beijo de onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se... Uma saudade morta em nós renasce Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia. A gente esquece sempre o bem de um dia. Que queres, meu Amor, se é isto a vida!
Autoria : Florbela Espanca
Formatação : Marte/JCarvalho
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A VIDA
É vão o amor, o ódio, ou o desdém ;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento !
Todos somos no mundo « Pedro Sem »,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem !
A mais nobre ilusão morre...desfaz-se
Uma saudade em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres , meu Amor, se isto é a vida !...
FLORBELA ESPANCA
Soneto extraído do " Livro Soror saudade "
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EM VãO
Passo triste na vida e triste sou,
Uma pobre a quem jamais quiseram bem !
Um caminhante exausto que passou,
Que não diz onde vai nem donde vem.
Ah ! Sem piedade, a rir, tanto desdém
A flor da minha boca desdenhou !
Solitário convento onde ninguém
A silenciosa cela procurou !
E eu quero bem a tudo, a toda a gente...
Ando a amar assim, perdidamente,
A acalentar o mundo nos meus braços !
E tem passado, em vão, a mocidade
Sem que no meu caminho uma saudade
Abras em flores a sombra dos meus passos !
FLORBELA ESPANCA
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Esquecimento
Florbela Espanca
Esse de quem eu era e que era meu, E foi um sonho e foi realidade, Que me vestiu a alma de saudade, Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu, E foi longínqua toda a claridade! Ceguei... tacteio sombras... que ansiedade! Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
Descem em mim poentes de Novembro... A sombra dos meus olhos, a escurecer... Veste de roxo e negro os crisntemos...
E desde que era meu já me não lembro... Ah! a doce agonia de esquecer A lembrar doidamente o que esquecemos!...
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SOROR SAUDADE
A Américo Durão
Irmã, Soror Saudade, me chamaste... E na minhalma o nome iluminou-se Como um vitral ao sol, como se fosse A luz do próprio sonho que sonhaste.
Numa tarde de Outono o murmuraste; Toda a mágoa do Outono ele me trouxe; Jamais me hão-de chamar outro mais doce; Com ele bem mais triste me tornaste...
E baixinho, na alma de minhalma, Como bênção de sol que afaga e acalma, Nas horas más de febre e de ansiedade,
Como se fossem pétalas caindo, Digo as palavras desse nome lindo Que tu me deste: "Irmã, Soror Saudade"...
Florbela Espanca | | | |
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SOL POENTE (Florbela Espanca ) Tardinha..."Ave, Maria, Mãe de Deus..." E reza a voz dos sinos e das noras... O sol que morre tem clarões de auroras, Águia que bate as asas pelos céus!
Horas que têm a cor dos olhos teus... Horas evocadoras de outras horas... Lembranças de fantásticos outroras, De sonhos que não tenho e que eram meus!
Horas em que as saudades pelas estradas Inclinam as cabeças martrizadas E ficam pensativas...meditando...
Morrem verbenas silenciosamente... E o rubro sol da tua boca ardente vai-me a pálida boca desfolhando...
Repassando de Peteca
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Há nos teus olhos de oiro um tal fulgor
E no teu riso tanta claridade,
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.
Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade,
E os teus beijos de sonho e de ansiedade
São como a alma a arder do próprio Amor!
Nasci envolta em trajes de mendiga,
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de oiro de rainha!
Tua irmã... teu amor... e tua amiga...
E também, toda em flor, a tua filha,
Minha roseira brava que é só minha!...
( Florbela Espanca )
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Vozes Do Mar
Quando o sol vai caindo sobre as águas Num nervoso delíquio d’oiro intenso, Donde vem essa voz cheia de mágoas Com que falas à terra, ó mar imenso?...
Tu falas de festins, e cavalgadas De cavaleiros errantes ao luar? Falas de caravelas encantadas Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos depopeias?Tens anseios Damarguras? Tu tens também receios, Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz,ó mar amigo?... ... Talvez a voz do Portugal antigo, Chamando por Camões numa saudade!
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Florbela Espanca
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Enviado: 23/10/2008 08:21 |
Amor que morre
O nosso amor morreu... Quem o diria! Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta, Ceguinha de te ver, sem ver a conta Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria... E outro clarão, ao longe, já desponta! Um engano que morre... e logo aponta A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver São precisos amores, pra morrer, E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso Fazer do amor que parte o claro riso De outro amor impossível que há-de vir!
Florbela Espanca
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Lágrimas Ocultas
Florbela Espanca
Se me ponho a cismar em outras eras Em que ri e cantei, em que era querida, Parece-me que foi noutras esferas, Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida, Que dantes tinha o rir das primaveras, Esbate as linhas graves e severas E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago... Toma a brandura plácida dum lago O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma! Ninguém as vê cair dentro de mim!
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A FLOR DO SONHO
A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.
Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ...
Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?! ...
Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi ...
(Florbela Espanca
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ANGÚSTIA
Tortura do pensar!Triste lamento! Quem nos dera calar a tua voz! Quem nos dera cá dentro, muito a sós, Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar!...e o pensamento Sempre a morder-nos bem, dentro de nós... Querer apagar no céu -- ó sonho atroz! -- O brilho duma estrela, com o vento!...
E não se apaga, não...nada se apaga! Vem sempre rastejando como a vaga... Vem sempre perguntando: "O que te resta?..."
Ah! não ser mais que o vago, o infinito! Ser pedaço de gelo, ser granito, Ser rugido de tigre na floresta!
Florbela Espanca | | | |
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O QUE TU ÉS
És aquela que tudo entristece, Irrita a amargura, tuda humilha; Aquela a quem a Mágoa chamou filha; A que aos homens e a Deus nada merece.
Aquela que o sol claro entenebrece, A que nem sabe a estrada que ora trilha, Que nem um lindo amor de maravilha Sequer deslumbra, e ilumina, e aquece!
Mar Morto sem marés nem ondas largas, A rastejar no chão, como as mendigas, Todo feito de lágrimas amargas!
És ano que não teve Primavera... Ah! Não seres como as outras raparigas Ó Princesa Encantada da Quimera!...
Florbela Espanca | | | |
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Desejos Vãos (Florbela Espanca)
Eu queria ser o Mar de altivo porte Que ri e canta, a vastidão imensa! Eu queria ser a Pedra que não pensa, A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o sol, a luz intensa O bem do que é humilde e não tem sorte! Eu queria ser a árvore tosca e densa Que ri do mundo vão é ate da morte!
Mas o mar também chora de tristeza... As árvores também, como quem reza, Abrem, aos céus, os braços, como um crente!
E o sol altivo e forte, ao fim de um dia, Tem lágrimas de sangue na agonia! E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!
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CONTO DE FADAS
Eu trago-te nas mõas o esquecimento Das horas más que tens vivido, Amor! E para as tuas chagas o unguento Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de Sorrento... Trago no nome as letras duma flor... Foi dos meus olhos garços que um pintor Tirou a luz para pintar o vento....
Dou-te o que tenho: o astro que dormita, O manto dos crepúsculos da tarde, O sol que é de oiro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez! -- Eu sou Aquela de quem tens saudades, A princesa do conto : "Era uma vez..."
Florbela Espanca | | | | |
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A FLOR DO SONHO
A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.
Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ...
Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?! ...
Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi ...
(Florbela Espanca
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Volúpia No divino impudor da mocidade, Nesse êxtase pagão que vence a sorte, Num frémito vibrante de ansiedade, Dou-te o meu corpo prometido à morte! A sombra entre a mentira e a verdade... A núvem que arrastou o vento norte... --- Meu corpo! Trago nele um vinho forte: Meus beijos de volúpia e de maldade! Trago dálias vermelhas no regaço... São os dedos do sol quando te abraço, Cravados no teu peito como lanças! E do meu corpo os leves arabescos Vão-te envolvendo em círculos dantescos Felinamente, em voluptuosas danças... Florbela Espanca |
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«« Mais Alto »» Mais alto, sim! mais alto, mais além Do sonho, onde morar a dor da vida, Até sair de mim! Ser a Perdida, A que se não encontra! Aquela a quem O mundo nao conhece por Alguém! Ser orgulho, ser águia na subida, Até chegar a ser, entontecida, Aquela que sonhou o meu desdém! Mais alto, sim! Mais alto! A Intangível Turris Ebúrnea erguida nos espaços, A rutilante luz dum impossível! Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber O mal da vida dentro dos meus braços, Dos meus divinos braços de Mulher! Florbela Espanca |
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«« Mais Alto »» Mais alto, sim! mais alto, mais além Do sonho, onde morar a dor da vida, Até sair de mim! Ser a Perdida, A que se não encontra! Aquela a quem O mundo nao conhece por Alguém! Ser orgulho, ser águia na subida, Até chegar a ser, entontecida, Aquela que sonhou o meu desdém! Mais alto, sim! Mais alto! A Intangível Turris Ebúrnea erguida nos espaços, A rutilante luz dum impossível! Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber O mal da vida dentro dos meus braços, Dos meus divinos braços de Mulher! Florbela Espanca |
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