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Message 1 of 24 on the subject |
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Meu ser evaporei na lida insana
Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava,
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim, quase imortal, a essência humana!
De que inúmeros sóis a mente ufana
A existência falaz me não doirava!
Mais eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos,
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus... Ó Deus! Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage)
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Message 10 of 24 on the subject |
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Ó Céus!
Ó Céus! Que sinto nalma! Que tormento! Que repentino frenesi me anseia! Que veneno a ferver de veia em veia Me gasta a vida, me desfaz o alento!
Tal era, doce amada, o meu lamento; Eis que esse deus, que em prantos se recreia, Me diz: A que se expõe quem não receia Contemplar Ursulina um só momento!
Insano! Eu bem te vi dentre a luz pura De seus olhos travessos, e cum tiro Puni tua sacrílega loucura:
De morte, por piedade hoje te firo; Vai pois, vai merecer na sepultura à tua linda ingrata algum suspiro.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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Message 11 of 24 on the subject |
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Invocação à noite
Ó deusa, que proteges dos amantes O destro furto, o crime deleitoso, Abafa com teu manto pavoroso Os importantes astros vigilantes:
Quero adoçar meus lábios anelantes No seio de Ritália melindroso; Estorva que os maus olhos do invejoso Turbem damor os sôfregos instantes:
Tétis formosa, tal encanto inspire Ao namorado Sol teu níveo rosto, Que nunca de teus braços se retire!
Tarda ao menos o carro à Noite oposto, Até que eu desfaleça, até que expire Nas ternas nsias, no inefável gosto.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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Message 12 of 24 on the subject |
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Oh Retrato da Morte, oh Noite amiga
M. M. Barbosa du Bocage
Oh retrato da Morte, oh Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga.
E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
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Message 13 of 24 on the subject |
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Túmulo de Inês de Castro
(Mosteiro de Alcobaça - Portugal)
CANTATA à MORTE DE INêS DE CASTRO
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando, comemoraram
Camões, "Os Lusíadas", Canto III, est. 135
Longe do caro Esposo Inês formosa
Na margem do Mondego
As amorosas faces aljofrava
De mavioso pranto.
Os melindrosos, cndidos penhores
Do tálamo furtivo,
Os filhinhos gentis, imagem dela,
No regaço da mãe serenos gozam
O sono da inocência.
Coro subtil de alígeros Favónios Que os ares embrandece,
Ora enlevado afaga
Com as plumas azuis o par mimoso,
Ora solto, inquieto,
Em leda travessura, em doce brinco,
Pela amante saudosa,
Pelos ternos meninos se reparte,
E com ténue murmúrio vai prender-se
Das áureas tranças nos anéis brilhantes.
Primavera louçã, quadra macia Da ternura e das flores,
Que à bela Natureza o seio esmaltas, Que no prazer de Amor ao mundo apuras
O prazer da existência.
Tu de Inês lacrimosa
As mágoas não distrais com teus encantos,
Debalde o rouxinol, cantou de amores, Nos versos naturais os sons varia;
O límpido Mondego em vão serpeia
Coum benigno sussuro, entre boninas De lustroso matiz, almo perfume,
Em vão se doira o Sol de luz mais viva.
Os céus de mais pureza em vão se adornam Por divertir-te, ó Castro.
Objectos de alegria Amor enjoam, Se Amor é desgraçado
A meiga voz dos Zéfiros, do rio, Não te convida o sono:
Só de já fatigada Na luta de amargosos pensamentos
Cerras, mísera, os olhos; Mas não há para ti, para os amantes
Sono plácido e mudo; Não dorme a fantasia,
Amor não dorme:
Ou gratas ilusões, ou negros sonhos
Assomando na ideia, espertam, rompem O silêncio da Morte.
Ah!, que fausta visão de Inês se apossa! Que cena, que espectáculo assombroso
A paixão lhe afigura aos olhos dalma!
Em marmóreo salão de altas colunas, A sólio majestoso e rutilante
Junto ao régio amador se crê subida;
Graças de neve a púrpura lhe envolve, Pende augusto dossel do tecto de oiro,
Rico diadema de radioso esmalte
Lhe cobre as tranças, mais formosas que ele; Nos luzentes degraus do trono excelso
Pomposos cortesãos o orgulho acurvam;
A lisonja sagaz lhe adoça os lábios; O monstro da política se aterra
E, se Inês perseguia, Inês adora.
Ela escuta os extremos,
Os vivas populares; vê o amante
Nos olhos estudar-lhe as leis que dita; O prazer a transporta, amor a encanta;
Prémios, dádivas mil ao justo, ao sábio
Magnnima confere;
Rainha esquece o que sofreu vassala:
De sublimes acções orna a grandeza, Felicita os mortais; do ceptro é digna,
Impera em corações...
Mas, Céus! que estrondo
O sonho encantador lhe desvanece! Inês sobressaltada
Desperta, e de repente aos olhos turvos Da vistosa ilusão lhe foge o quadro.
Ministros do Furor, três vis algozes,
De buídos punhais a dextra armada, Contra a bela infeliz, bramando, avançam,
Ela grita, ela treme, ela descora;
Os frutos da ternura ao seio aperta, Invocando a piedade, os Céus, o amante;
Mas de mármore aos ais, de bronze ao pranto,
à suave atracção da formosura, Vós, brutos assassinos,
No peito lhe enterrais os ímpios ferros,
Cai nas sombras da morte
A vítima de Amor lavada em sangue;
As rosas, os jasmins da face amena Para sempre desbotam;
Dos olhos se lhe some o doce lume; E no fatal momento
Balbucia, arquejando:
"Esposo! Esposo!" Os tristes inocentes
A triste mãe abraçam,
E soltam de agonia inútil choro.
Ao suspiro exaltado,
Final suspiro da fortuna extinta,
Os Amores acodem.
Mostra a prole de Inês, e tua, ó Vénus,
Igual consternação, e igual beleza:
Uns dos outros os cndidos meninos
Só nas asas diferem,
(Que jazem pelo campo em mil pedaços
Carcases de marfim, virotes de ouro) Súbito voam dois do coro alado;
Este, raivoso, a demandar vingança
No tribunal de Jove,
Aquele a conduzir o infausto anúncio
Ao descuido da amante.
Nas cem tubas da Fama o grão desastreIrá pelo universo:
Hão-de chorar-te, Inês, na Hircnia os tigres,
No torrado sertão da Líbia fera
As serpes, os leões hão-de chorar-te.
Do Mondego, que atónito recua, Do sentido Mondego as alvas filhas
Em tropel doloroso Das urnas de cristal eis vêm surgindo;
Eis, atentas no horror do caso infando,
Terríveis maldições dos lábios vibram Aos monstros infernais, que vão fugindo
Já croam de cipreste a malfadada,
E, arrepelando as nítidas madeixas, Lhe urdem saudosas, lúgubres endechas
Tu, Eco, as decoraste;
E cortadas dos ais, assim ressoam Nos côncavos penedos, que magoam:
Toldam-se os ares Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.
Mísero esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto Já não é seu.
Sua alma pura
Nos Céus encerra;
Triste da Terra, Porque a perdeu.
Contra a cruenta
Raiva ferina,
Taça divina Não lhe valeu.
Tem roto o seio,
Tesouro oculto;
Bárbaro insultoSe lhe atreveu.
Da dor e espanto
No carro de ouro O númen louro
Desfaleceu.
Aves sinistras
Aqui piaram, Lobos uivaram,
O chão tremeu.
Toldam-se os ares
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage)
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Message 14 of 24 on the subject |
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Ó TREVAS
Ó trevas, que enlutais a Natureza, Longos ciprestes desta selva anosa, Mochos de voz sinistra e lamentosa, Que dissolveis dos fados a incerteza;
Manes, surgidos da morada acesa Onde de horror sem fim Plutão se goza, Não aterreis esta alma dolorosa, Que é mais triste que voz minha tristeza.
Perdi o galardão da fé mais pura, Esperanças frustrei do amor mais terno, A posse de celeste formosura.
Volvei, pois, sombras vãs, ao fogo eterno; E, lamentando a minha desventura, Movereis à piedade o mesmo Inferno.
Bocage | | | | | | | | | | |
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Message 15 of 24 on the subject |
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A frouxidão
no amor é uma ofensa
(Manuel Maria Barbosa du Bocage)
A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.
Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.
Tu só tens gratidão, só tens brandura,
E antes que um coração pouco amoroso
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.
Talvez me enfadaria aspecto iroso,
Mas de teu peito a lnguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso
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Message 16 of 24 on the subject |
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NEGRA FERA ...
Negra fera, que a tudo as garras lanças, Já murchaste, insensível a clamores, Nas faces de Tirsália as rubras flores, Em meu peito as viçosas esperanças.
Monstro, que nunca em teus estragos cansas, Vê as três Graças, vê os nus Amores Como praguejam teus cruéis furores, Ferindo os rostos, arrancando as tranças!
Domicílio da noute, horror sagrado, Onde jaz destruída a formosura, Abre-te, dá lugar a um desgraçado.
Eis desço, eis cinzas palpo... Ah, Morte dura! Ah, Tirsália! Ah, meu bem, rosto adorado! Torna, torna a fechar-te, ó sepultura!
Bocage
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Message 17 of 24 on the subject |
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Meu ser evaporei na lida insana
Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava,
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim, quase imortal, a essência humana!
De que inúmeros sóis a mente ufana
A existência falaz me não doirava!
Mais eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos,
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus... Ó Deus! Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage)
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Message 18 of 24 on the subject |
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IMPORTUNA RAZãO,
M M B du Bocage
Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;
Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.
É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.
Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
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Message 19 of 24 on the subject |
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Soneto Ditado na Agonia
Já Bocage não sou!... à cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura, Em prosa e verso fez meu louco intento: Musa!... Tivera algum merecimento Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quasi fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia, Rasga meus versos, crê na eternidade!.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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GOA
Das terras a pior tu és, ó Goa, Tu pareces mais ermo que cidade, Mas alojas em ti maior vaidade Que Londres, que Paris ou que Lisboa.
A chusma de teus íncolas pregoa Que excede o Grão Senhor na qualidade; Tudo quer senhoria; o próprio frade Alega, para tê-la, o jus da croa!
De timbres prenhe estás; mas oiro e prata Em cruzes, com que dantes te benzias, Foge a teus infanções de bolsa chata.
Oh que feliz e esplêndida serias, Se algum fusco Merlim, que faz bagata, Te alborcasse a pardaus as senhorias!
Bocage
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Ó TREVAS
Ó trevas, que enlutais a Natureza, Longos ciprestes desta selva anosa, Mochos de voz sinistra e lamentosa, Que dissolveis dos fados a incerteza;
Manes, surgidos da morada acesa Onde de horror sem fim Plutão se goza, Não aterreis esta alma dolorosa, Que é mais triste que voz minha tristeza.
Perdi o galardão da fé mais pura, Esperanças frustrei do amor mais terno, A posse de celeste formosura.
Volvei, pois, sombras vãs, ao fogo eterno; E, lamentando a minha desventura, Movereis à piedade o mesmo Inferno.
Bocage | | | | | | | | | | | |
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Message 20 of 24 on the subject |
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Fiei-me nos sorrisos da Ventura
Fiei-me nos sorrisos da Ventura, Em mimos feminis. Como fui louco! Vi raiar o prazer; porém tão pouco Momentneo relmpago não dura.
No meio agora desta selva escura, Dentro deste penedo húmido e oco, Pareço, até no tom lúgubre e rouco, Triste sombra a carpir na sepultura.
Que estncia para mim tão própria é esta! Causais-me um doce e fúnebre transporte, Áridos matos, lôbrega floresta!
Ah!, não me roubou tudo a negra Sorte: Inda tenho este abrigo, inda me resta O pranto, a queixa, a solidão e a morte.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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Message 21 of 24 on the subject |
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GOA
Das terras a pior tu és, ó Goa, Tu pareces mais ermo que cidade, Mas alojas em ti maior vaidade Que Londres, que Paris ou que Lisboa.
A chusma de teus íncolas pregoa Que excede o Grão Senhor na qualidade; Tudo quer senhoria; o próprio frade Alega, para tê-la, o jus da croa!
De timbres prenhe estás; mas oiro e prata Em cruzes, com que dantes te benzias, Foge a teus infanções de bolsa chata.
Oh que feliz e esplêndida serias, Se algum fusco Merlim, que faz bagata, Te alborcasse a pardaus as senhorias!
Bocage
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Message 22 of 24 on the subject |
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Soneto Ditado na Agonia
Já Bocage não sou!... à cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura, Em prosa e verso fez meu louco intento: Musa!... Tivera algum merecimento Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quasi fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia, Rasga meus versos, crê na eternidade!.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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Message 23 of 24 on the subject |
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Manuel Maria Barbosa du Bocage
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Manuel Maria de Barbosa lHedois du Bocage
(Setúbal, 15 de Setembro de 1765 —
Lisboa, 21 de Dezembro de 1805),
poeta português e, possivelmente, o maior representante do
arcadismo lusitano.
Embora ícone deste movimento literário, é uma figura
inserida num período de
transição do estilo clássico
para o estilo romntico que terá forte
presença na literatura portuguesa do século XIX.
Era primo em segundo grau do
zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage.
Nascido em Setúbal às três horas da tarde de
15 de Setembro de 1765,
falecido em Lisboa na manhã de 21 de Dezembro de 1805,
era filho do bacharel
José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora, ouvidor,
e depois advogado, e de
D. Mariana Joaquina Xavier lHedois Lustoff du Bocage,
cujo pai era francês.

Estátua de Bocage em Setúbal
Teve cinco irmãos.
O pai do poeta, José Luís Soares Barbosa, nasceu em Setúbal, em 1728.
Bacharel em Direito por Coimbra,
foi juiz de fora em Castanheira e Povos,
cargo que exercia durante o terramoto de 1755,
que arrasou aquelas povoações.
Em 1765, foi nomeado ouvidor em Beja.
Acusado de ter desviado
a décima enquanto ouvidor,
possivelmente uma armadilha para o prejudicar,
visto ser próximo de pessoas
que foram vítimas de Pombal, o pai de Bocage foi preso
para o Limoeiro em 1771,
nunca chegando a fazer defesa das suas acusações.
Com a morte do rei D. José, em 1777, dá-se a "viradeira",
que valeu a liberdade
ao pai do poeta, que voltou para Setúbal, onde foi advogado.
Sua mãe era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa,
madame Marie Anne Le Page du Bocage,
tradutora do "Paraíso" de Milton,
imitadora da "Morte de Abel", de Gessner,
e autora da tragédia "As Amazonas"
e do poema épico em dez cantos "A Columbiada",
que lhe mereceu a coroa de louros de Voltaire
e o primeiro prémio da academia de Rouen.
Apesar das numerosas biografias publicadas após a sua morte,
boa parte da sua vida permanece um mistério.
Não se sabe que estudos fez, embora se deduza da sua obra que
estudou os clássicos e as
mitologias grega e latina, que estudou francês e também
latim. A identificação das mulheres
que amou é duvidosa e discutível.
A sua infncia foi infeliz. O pai foi preso ,
quando ele tinha seis anos e
permaneceu na cadeia seis anos. A sua mãe faleceu
quando tinha dez anos.
Possivelmente ferido por um amor não correspondido,
assentou praça como
voluntário em 22 de Setembro de 1781
e permaneceu no Exército até 15 de Setembro de 1783.
Nessa data, foi admitido na Escola da Marinha Real,
onde fez estudos
regulares para guarda-marinha.
No final do curso desertou, mas, ainda assim,
aparece nomeado guarda-marinha por D. Maria I.
Nessa altura, já a sua fama de poeta e versejador
corria por Lisboa.
Em 14 de Abril de 1786, embarcou como oficial de marinha
para a Índia, na nau “Nossa Senhora da Vida,
Santo António e Madalena”, que chegou ao Rio de Janeiro
em finais de Junho.
Na cidade, viveu na actual Rua Teófilo Otoni,
e diz o "Dicionário de Curiosidades do Rio de Janeiro"
de A. Campos - Da Costa e Silva, pg 48, que
"gostou tanto da cidade que, pretendendo permanecer
definitivamente, dedicou ao vice-rei uma poesia-canção
cheia de bajulações,
visando atingir seus objectivos. Sendo porém o vice-rei
avesso a elogios,
fê-lo prosseguir viagem para as Índias".
Fez escala na Ilha de Moçambique (início de Setembro)
e chegou à Índia em 28 de Outubro de 1786.
Em Pangim, frequentou de novo
estudos regulares de oficial de marinha.
Foi depois colocado em
Damão, mas desertou em 1789, embarcando para Macau.
Foi preso pela inquisição,
e na cadeia traduziu poetas franceses e latinos.
A década seguinte é a da sua maior produção literária
e também o período de maior boémia
e vida de aventuras.
Ainda em 1790 foi convidado e aderiu à
Academia das Belas Letras
ou Nova Arcádia, onde adoptou o pseudónimo Elmano Sadino.
Mas passado pouco tempo escrevia já ferozes sátiras
contra os confrades.
Em 1791, foi publicada a 1.ª edição das “Rimas”.
tão Lisboa o Intendente da Polícia Pina Manique
que decidiu pôr ordem na cidade, tendo em 7 de Agosto de 1797
dado ordem de prisão a Bocage
por ser “desordenado nos costumes”.
Ficou preso no Limoeiro
até 14 de Novembro de 1797, tendo depois dado
entrada no calabouço da Inquisição,
no Rossio. Aí ficou até 17 de Fevereiro de 1798,
tendo ido depois para o Real Hospício das Necessidades,
dirigido pelos Padres Oratorianos de São Filipe Neri,
depois de uma breve passagem pelo Convento dos Beneditinos.
Durante este longo período de detenção,
Bocage mudou o seu comportamento e começou a trabalhar
seriamente como redactor e tradutor.
Só saiu em liberdade no último dia de 1798.
De 1799 a 1801 trabalhou sobretudo com
Frei José Mariano da Conceição Veloso, um frade brasileiro,
politicamente bem situado e nas boas graças de Pina Manique,
que lhe deu muitos trabalhos para traduzir.
A partir de 1801, até à morte por aneurisma,
viveu em casa por ele arrendada no Bairro Alto,
naquela que é hoje o n.º 25 da travessa André Valente.
A 15 de Setembro, data de nascimento do poeta,
é feriado municipal em Setúbal.
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Message 24 of 24 on the subject |
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From: LIFE |
Sent: 20/12/2009 11:33 |

«« Ode à Liberdade »» Bocage ( Manuel Maria Barbosa du Bocage ) "Sanhudo, inexorável Despotismo Monstro que em pranto, em sangue a fúria cevas, Que em mil quadros horríficos te enlevas, Obra da Iniquidade e do Ateísmo: Assanhas o danado Fanatismo, Porque te escore o trono onde te enlevas; Por que o sol da Verdade envolva em trevas E sepulte a Razão num denso abismo. Da sagrada Virtude o colo pisas, E aos satélites vis da prepotência De crimes infernais o plano gizas, Mas, apesar da bárbara insolência, Reinas só no ext'rior, não tiranizas Do livre coração a independência." |
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