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CULTURA: MARIA DE LOURDES BELCHIOR
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De: NATY-NATY  (Missatge original) Enviat: 25/10/2009 20:57

por Maria Idalina Resina Rodrigues

Em algumas das suas últimas intervenções (Doutoramentos Honoris Causa na Universidade do Porto, em 1996, e na Universidade Nova de Lisboa, em 1998), embora com a inevitável modéstia, de si própria esboçou Maria de Lourdes Belchior um retrato em que alunos e colegas sem dificuldade a reconhecem. Falou da sua paixão pelo ensino, do seu entendimento das aulas como espaço de convívio e aprendizado mútuo, do seu ofício de intérprete dos textos literários, enquanto cruzamento da história e da estética, da certeza tranquila de que se ensina tanto dentro como fora da escola; não se esqueceu da gratidão aos mestres e aos companheiros que a ajudaram a formar, não se esqueceu de referenciar as suas andanças pelo mundo fora, nem o modo como sempre as conciliou com o apego à Faculdade de Letras de Lisboa.

Complementando, com um breve comentário, as suas palavras, poderemos dela afirmar que teve da cultura um conceito simultaneamente amplo e rigoroso, da Universidade uma noção de que pode e deve abrir-se ao exterior, da vida em geral uma visão humanista cristã que se adivinhava nas aulas, no entusiasmo da comunicação, na disponibilidade para servir.

Maria de Lourdes Belchior licenciou-se em 1946 com uma dissertação intitulada Da Poesia de Frei Agostinho da Cruz - Tentativa de Análise Estilística e, depois de uma curta passagem pela Escola Veiga Beirão, foi contratada como Segundo Assistente, em 1947, pela Faculdade onde estudara, a de Letras da Universidade de Lisboa, aí prestando provas de Doutoramento, em 1953, após uma estadia como leitora do Instituto Católico de Paris (1950-1952), com uma tese sobre Frei António das Chagas - Um Homem e um Estilo do Século XVII; em 1959 obteve o título de Professora Extraordinária, por concurso em que se apresentou com um trabalho sobre o Itinerário Poético de Rodrigues Lobo; entretanto, e dum ponto de vista da leccionação, ocupara-se já de várias disciplinas no mbito da Filologia Romnica, entre as quais foram recorrentes a Literatura Portuguesa II (classicismo e barroco), a Literatura Espanhola e a Cultura Portuguesa.

Entre 1963 e 1966, desempenhou funções de Conselheiro Cultural na Embaixada de Portugal no Brasil, país que percorreu largamente, efectuando conferências e orientando debates sobre questões da sua especialidade; entre 1966 e 1970, regressada a Portugal, foi Conselheira para a Direcção do Instituto de Alta Cultura, tendo, em 1969, concorrido a vaga de Professora Catedrática na Universidade do Porto onde, durante um ano, assegurou a cadeira de Literatura Portuguesa I (Idade Média), na Faculdade de Letras, assim iniciando uma colaboração que se ampliaria com o apoio ao Centro Inter-Universitário de História da Espiritualidade ali sediado.

De novo em Lisboa, foi, entre 1970 e 1973, Presidente do Instituto de Alta Cultura e, em seguida, membro do Conselho Fundador da Universidade Nova; entre Maio e Dezembro de 1974, assumiu o cargo de Secretária de Estado da Cultura e Investigação Científica mas, rapidamente desobrigada, por sua iniciativa, de cargos políticos, veio a ser, em Maio de 1975, co-fundadora do Semanário Nova Terra, assinando, como Directora, grande parte dos editoriais.

O ano lectivo de 1976-1977, passá-lo-ia como Professora Associada na Sorbonne e, a partir de 1978, iniciaria, na Universidade de Santa Bárbara, um longo período de regência de disciplinas na área das literaturas e culturas lusófonas (cerca de dez anos), em boa parte em acumulação com serviço docente semestral na Faculdade de Letras de Lisboa. A partir de 1989 e até 1998, aceitou o lugar de Directora do Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, que exerceu com extraordinário entusiasmo, promovendo cursos de Português, seminários multidisciplinares, lançamentos de livros, recitais, traduções de autores nacionais.

Tanto de um ponto de vista de preferências periodológicas como no que a escolhas de métodos respeita, os três grandes estudos acima indicados, prioritariamente resultantes de exigências da carreira académica, mas justamente acolhidos, ainda hoje, como excelentes e indispensáveis contributos pelos investigadores das letras, sinalizam inequivocamente um percurso que nunca seria abandonado: os séculos XVI e sobretudo XVII (os tempos do barroco) como balizas cronológicas e a estilística como orientação na travessia pelos textos.

Se, em seu entender, o arrábido Frei Agostinho da Cruz (1540-1619), quer pelo feixe temático (o remorso do passado, a inquietação no presente, a meditação do Cristo sangrento), quer pelos recursos linguísticos (os paralelismos, os contrastes, os hipérbatos) é já um profeta do barroco, e, se o mesmo se pode dizer de Rodrigues Lobo (1580-1622?), poeta do desengano e discípulo de Góngora, será Frei António das Chagas (1631-1682) quem, para Maria de Lourdes Belchior, na vida (os contrastes, as peripécias, os acidentes) e na obra (as metáforas e imagens, as simetrias e plurimembrações) melhor documenta essa rica e nem sempre bem compreendida fase da nossa vida cultural.

O que nos obriga a acrescentar que à autora destes trabalhos se ficou a dever em boa parte a reabilitação de uma época literária que a vizinha Espanha já desde a década de vinte vinha ensaiando e que muitos dos artigos que, em seguida, na mesma linha publicou, claramente mostraram confirmar-se a razão de ser do trilho encetado. Reunidos em 1971, formaram alguns deles o volume a que deu o título de Os Homens e os Livros - Séculos XVI e XVII, a anteceder em nove anos outro volume sobre Os Homens e os Livros II - Séculos XIX e XX.

São as duas introduções a estas obras e as reflexões sobre ciência da literatura, incluídas no segundo tomo, fundamentais para bem se compreenderem as certezas e as dúvidas da autora na tentativa de encontro com o objecto literário, muito clara ficando a sua opção, progressivamente pontuada, pela recusa de qualquer caminho que à desumanização das letras pudesse conduzir, embora para as correntes estruturalistas, com os seus inevitáveis excessos de terminologia, fossem endereçados os principais remoques.

Paralelamente, no volume de 1981, logo a designação nos lembra que a autora também de escritores modernos se ocupou, aqui revisitando sobretudo a geração de 40, mas sendo também verdade que, com alguma frequência, escreveu sobre poetas e homens que bem conheceu e estimou como Vitorino Nemésio, Sebastião da Gama, Ruy Belo e sobre ensaístas ou romancistas que igualmente de perto contactou como Hernni Cidade, Prado Coelho, Ruben A..

Precisemos ainda que, se no interesse pelo período barroco Maria de Lourdes Belchior inegavelmente desfruta de um certo pioneirismo, está fora de dúvida ter sido ela a grande e convicta pioneira da estilística em Portugal, defendendo e aplicando um tipo de análise imanente (embora situada) da obra literária, afectuosamente olhada como um microcosmos significante, a alertar para uma busca de sentidos recorrentes, a partir da atenção à força contagiante das palavras entre si enredadas. Isto ao longo de todo o seu percurso de estudiosa, embora naturalmente sem rigidez porque, e matizemos as suas censuras ao estruturalismo, nunca recusou beneficiar dos contributos que a muita bibliografia doutrinária, a cada passo, reformulando saberes, lhe ia proporcionando. Modelos, teve alguns, sempre os identificou, mas dois a marcaram de modo especial: Rodrigues Lapa e Dámaso Alonso.

Na década de 80, a professora-ensaísta aventurou-se à poesia, e legou-nos uma Gramática do Mundo (1985) e um Cancioneiro para Nossa Senhora - Poemas para uma Via-Sacra (1988), às vezes recuperando, na primeira colectnea, temas e tópicos bíblicos também do agrado do maneirismo e do barroco, mas sempre pessoalizando uma interpelação a Deus quanto ao sentido de um mundo que desejava decifrado sem rejeição, e reservando para o Cancioneiro os versos de louvor e saudação, lamento e súplica a Maria - mediadora, no quadro de uma tradição religiosa portuguesa que o seu saber fazer valorizava sem constrangimentos. Apesar de inegáveis pontos de contacto com alguns poetas da geração de 50, a que, em parte, pertenceu, Maria de Lourdes Belchior nem por isso deixou de estar próxima de autores dos anos 70, um dos quais, aliás, a prefaciou.

Era membro da Sociedade Hispnica na América (1970), da Academia Latina (1970) e da Academia das Ciências de Lisboa (1975); foi galardoada com o grau de Comendador da Ordem do Rio Branco (1967), da Ordem de Santiago da Espada (1971) e da Ordem de Mérito da R. F. A. (1973); era Grão Oficial da Ordem da Instrução Pública (1973) e Officier de la Légion d'Honneur de França (1975); foram-lhe concedidos o Prémio Europa da Académie de Marches de I'Est (1996) e a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1998).

Foram-lhe dedicados os seguintes volumes de estudos: O Amor das Letras e das Gentes. In Honor of Maria de Lourdes Belchior Pontes, edited by João Camilo dos Santos and Frederick G. Williams, Center for Portuguese Studies, University of California, Santa Bárbara, 1995; Romnica. Revista de Literatura, 1/2, Lisboa, Cosmos, 1993; Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, XXXVII, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa - Paris, 1998.

 

Bibliografia de Maria de Lourdes Belchior Pontes

Elaborada por Ernesto Rodrigues
Universidade de Lisboa

1946

1. «Da Mulher (Duas concepções de vida)». Aqui e Além (Lisboa), n.º 4, Abril de 1946: 47-50.
2. «Da Poesia de Frei Agostinho da Cruz - Tentativa de Análise Estilística» [Tese dactilografada]. Lisboa: Faculdade de Letras, 1946. 126 p.

1950

3. Bibliografia de António da Fonseca Soares (Frei António das Chagas). Lisboa: Centro de Estudos Filológicos, 1950. 125 p.

1951

4. «As glosas do salmo 136 e a saudade portuguesa». Bulletin of Hispanic Studies (University of Liverpool), vol. XXVIII, n.º 109, Jan.-March, 1951: 42-48.
5. «Estilística e ciência da literatura: a propósito do recente livro do Prof. Dámaso Alonso, Poesía Española - ensayo de métodos y limites estilísticos». Revista da Faculdade de Letras (Lisboa), 2.ª série, t. XVII, 1951: 112-127.
6. «Helmut Hatzfeld, Two types of mystical poetry illustrated by St. Teresa and St. John of the Cross (vivo sin vivir en mi)», Revista Portuguesa de Filologia (Coimbra), vol. IV, t. II, 1951: 450-456.

1952

7. « Mário Martins, Laudes e Cantigas espirituais de Mestre André Dias». Id., vol. V, 1952: 327-330.

1953

8. «Álvaro Galmés e [y] Diego Catalán, El tema de la boda estorbada. Proceso de tradicionalización de un romance juglaresco». Boletim de Filologia (Lisboa), vol. XIV, fascs. 3 e 4, 1953: 365-372.
9. Frei António das Chagas - Um Homem e Um Estilo do Século XVII. Lisboa: Centro de Estudos Filológicos, 1953. XX + 501 p.

1954/55



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