|
Menino de pés no chão
Menino de pés no chão Que dormes nas calçadas Não
tens roupas, não tens casa A ti só foi reservado o nada
Menino de pés no chão Que vagas pelas ruas Teu
coração sente frio Enquanto precisas de carinho
Menino de pés no chão Teu cobertor é um
papelão Teus sonhos- uma ilusão Vives em busca de um trocado Ao menos
se ganhasse um abraço Já te seria de maior agrado
Menino de pés no chão És filho da violência a que a
sociedade Te nega um dia- o papel de cidadão Foste cria primeira da
indiferença e do descaso
Menino de pés no chão Teu passado uma péssima
lembrança Teu futuro marcado pela incerteza De se conseguir sobreviver
ao Presente como se fosse um campeão
Menino de pés no chão A fome, a dor, a
solidão Fazem parte da tua rotina Como o medo, a insegurança e a
discriminação Ameaçam teus futuros dias
Menino de pés no chão Teu valor é relegado à
marginalidade dos insetos, bichos silvestres e
ratos
Menino de pés no chão Te julgam, te condenam,
chamam-te De marginal e de ladrão Mas nunca te olham como um
irmão
Menino de pés no chão Herdeiro da América Latina Rebento do
país da corrupção O Brasil aniquila a tua chance de
ascensão
Menino de pés no chão De olhos marejados de
lágrimas Da boca seca e da barriga vazia Da esperança no nada, As
noites mal dormidas nas praças Tornaram-te símbolo da injustiça e da
desgraça
Menino de pés no chão Estejas na cidade ou no
sertão És forte quando querem te fazer fraco, És violentado em tua
essência humana Mas nada lhe tira o direito de brincar e sorrir como Um
menino de pés no chão!
de Manuela
Lira
|