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     As portas do 
coração  © 
Letícia Thompson    Acho 
que ninguém passa a vida como uma folha em branco, sem escritos, sem rabiscos. 
Tudo vai sendo escrito na alma, os momentos vão sendo registrados , misturando o 
que foi com o que deixou de ser, as grandes expectativas com as grandes 
decepções.  Cada 
página virada traz as marcas das que passaram e com o tempo vamos aprendendo a 
prudência nas relações.  Quando somos jovens é diferente, pois a esperança é tão 
eterna quanto o amor que toma conta da gente. Mas os anos nos trazem a vivência, 
a desconfiança e a memória das coisas que nos fizeram 
mal. Se na 
juventude nos jogamos de cara a cada nova oportunidade, mais tarde aprendemos a 
caminhar lentamente, olhar de longe, tentar reconhecer os riscos e buscar 
garantias. Essas mesmas garantias que só são assinadas depois, bem depois, caso 
existam. A 
vida não nos abandona e as oportunidades vão surgindo. Mas, com elas as feridas 
que se reabrem, que revivem e fechamos os olhos a, talvez, belos instantes de 
felicidade plena e eterna.  Não 
sabemos! Não podemos saber! As pessoas não são iguais, mas tão parecidas! Não 
queremos sonhar de novo e cair de novo, chorar de novo e parecer tolos aos olhos 
dos outros... preferimos fechar as portas do coração e olhar pela fresta, 
imaginar o que teria sido se tivéssemos, pelo menos, 
tentado... Queremos sempre o amor, nunca a dor que dele resulta. 
Queremos o mel, a alegria e até a saudade que pode incomodar o coração, mas 
dor... dor não! Não 
sabemos, talvez, que seja esse o preço e que a alegria de amar um tempo vale mil 
vezes a dor cravada na alma. Amar 
alguém é elevar-se ao ponto nobre da vida. É tocar o céu e ter a terra aos seus 
pés. E se mais tarde os ventos contrários nos trazem de volta, valeu a viagem, 
valeram as lembranças que carregamos e que nos 
sustentam. E 
entre os escritos da vida, prevalecem, no fim, o néctar que soubemos tirar das 
flores, a poesia que tiramos dos amores, mesmo daqueles que tiveram 
fim...  Letícia Thompson  
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