Muito além das  aparências...
 ©  Letícia Thompson 
 
Não... quem vê cara não vê coração, nem a alma, nem a  solidão ou o desespero escondidos atrás de sorrisos ou gestos. Não que essas  coisas não sejam transparentes, mas o que as outras pessoas gostam mesmo são das  evidências. Para elas, se sorrimos, é evidente que estamos felizes e não há  razão para ir além. As pessoas se esquecem simplesmente que existimos além,  muito além das aparências.
Se  você diz que está triste, seus verdadeiros amigos vão querer saber por quê, vão  se interessar. Talvez antes que você pronuncie uma palavra eles já notaram, por  que te conhecem o suficiente. Mas em geral cada qual já tem suas próprias  preocupações, legítimas ou não, para querer saber o que se passa dentro de um  coração fechado.
Diz-se "como vai você" ou "tudo bom" mais por educação do  que por interesse em saber realmente como o outro vai. Faz parte do palco da  vida onde cada qual representa seu papel. E quando as cortinas se fecham,  fecha-se também o mundo em torno de si. Pessoas sentem-se sozinhas, choram  sozinhas e oram em silêncio para que a solidão faça uma viagem para bem  longe...
Todo  mundo parece tão preocupado com sua busca de felicidade, seu par perfeito, suas  realizações... suas! Olhássemos nós um pouquinho mais para o lado e veríamos que  não pode haver felicidade, ou perfeição, ou realizações se temos tudo, se  conseguimos tudo, mas não conquistamos verdadeiramente um  coração.
As  pessoas existem além das aparências, elas amam além das aparências, elas sofrem  além das aparências. Elas são, simplesmente.
A  gente aprende muitas coisas na vida, mas pouco aprendemos sobre olhar. Olhar  dentro, pra dentro... fotografar em si as necessidades alheias e tentar  supri-las com um interesse verdadeiro. A superfície engana tanto e tanto! Mas  ninguém disfarça um olhar que brilha ou que chora.
Existiria menos egoísmo e menos solidão se olhássemos  mais nos olhos das pessoas, se compreendêssemos que para elas muitas vezes mais  importante que um pedaço de pão é um pouco da nossa  atenção.
 
Letícia Thompson