Aquela
Minha amada é de carne, de pele e pêlo. Ora é negra, ora é loura, ora é vermelha. Minha amada é três. É trinta e três. Minha amada é lisa, é crespa, é salgada, é doce. Ela é flor, é fruto, é folha, é tronco. Também é pão, é sal e manga-rosa. Minha amada é cidade de ruas e pontes. É jardim de arrancar flores pelo talo. Ela é boazuda e é bela como uma fera. Minha amada é lúbrica, é casta, é catinguenta. Minha amada tem bocas e bocas de sorver, de sugar, de espremer, de comer. Minha amada é funda, latifúndia. Minha amada é ela, aquela que não vem. Ainda não veio, nunca veio, ainda não. Mas virá, ora se virá. A diaba me virá.
Darcy Ribeiro
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