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PROSAS: Prosa poética: uma possível teoria e um encontro na crônica de Rubem Braga
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De: NATY-NATY  (Mensaje original) Enviado: 24/01/2010 20:11

Prosa poética: uma possível teoria e um encontro na crônica de Rubem Braga
De: ... colaboradores


Vários termos se confundem quando são abordadas prosa e poesia simultaneamente. Observa-se que há uma poética da prosa e uma poética da poesia. Existe também a prosa poética, uma prosa em que há emprego de recursos líricos, buscando atingir efeitos estéticos. É esta modalidade que podemos encontrar em algumas crônicas de Rubem Braga, entre elas a famosa  Recado ao Senhor 903.

Temos ainda o poema em prosa, pequenos poemas, produzidos geralmente por poetas que, no lugar de definir o verso, preferem a escrita contínua, mas o ritmo poético está lá e pode ser facilmente identificado. É o que Rimbaud faz nas Iluminações; Baudelaire, o primeiro a utilizar a terminologia, em Les Petits Poèmes en prose; e Manuel Bandeira, em Poema tirado de uma notícia de jornal, exemplo de poema em prosa brasileiro. Esses poemas são facilmente identificados porque o grau de poeticidade (emprego de recursos como rima, imagens, figuras, paralelismo, entrecruzamento de som e sentido, polissemia, equivalências ou acoplamentos) é evidente. Michel SANDRAS (1995: 43), em Lire le poème en prose, destrincha o tema, iniciado por Suzanne Bernard em sua tese de doutorado Le Poème en prose de Baudelaire jusqu’à nos jours (Nizet, 1959), citada por Sandras,  que apresenta uma conceituação de poema em prosa (a tradução do original em francês é nossa):

O poema é, assim, um texto que adota a “justificação” da prosa (no sentido tipográfico) e, sem renunciar aos recursos da prosa e aos aspectos dos gêneros que a utilizam, constrói, como o poema, semelhanças, em diferentes níveis da frase e do discurso. Preocupado em tornar visível a totalidade de um efeito, ele é forçado à brevidade e à autonomia. A primazia de significantes em uma forma condensada assegura, simultaneamente, uma concentração de redes de sentido e uma abertura em direção ao leitor: é aí que o poema em prosa é poema, qualquer que seja, aliás, a intenção de distncia ou de desvio, expressa, por vezes, pelo seu autor.

Sandras aponta a ausência de fronteiras entre o poema em prosa e outras prosas, de gênero “indeterminado”, com as quais tem afinidades: crônica, prosa de arte, fragmento filosófico, algumas ficções (conto, relato de sonho), que eram publicadas em revistas e jornais.  Nesses gêneros  – muitos dos quais copiados ou traduzidos pelos brasileiros que faziam os jornais da época – ocorreria uma prosa poética, diferente da praticada nos poemas em prosa, e cuja distinção fica a cargo do mesmo Sandras:

"Mesmo que o nascimento do poema em prosa e da prosa poética sejam indissociáveis, a primeira tarefa é a de distinguir estas duas denominações. A prosa poética utiliza essencialmente os recursos rítmicos e prosódicos da língua, aqueles com os quais o poema versificado geralmente trabalha. Ela constitui, pois,  uma característica  da escrita, perceptível entre os diversos gêneros (romances, autobiografias), continuamente ou em passagens. Já o poema em prosa não se define pela qualidade de sua escrita, mas como uma composição autônoma”.

Sandras explica ainda que pode haver passagens em prosa poética em várias obras, e, de forma mais ampliada, sua conceituação se aproxima do récit poétique, identificado em autores como James Joyce (no Ulisses e no Finnegan’s Wake).

Mas é Marcel Proust quem melhor ilustra esse exemplo de prosa poética: Em busca do tempo perdido é praticamente inteiro narrado com lirismo e imagens essencialmente poéticas (basta citar as madeleines , para não tornar o exemplo exaustivo). Já Jean-Jacques Rousseau consegue transmitir um lirismo ímpar, nos Devaneios do caminhante solitário, efetivamente na Quinta Caminhada, na qual o ritmo da narração ganha uma cadência peculiar, reproduzindo o movimento das ondas no mar, em que, dos 17 parágrafos de tamanhos irregulares mas equilibrados, o sétimo, muito longo, e o último, mais longo que os demais e menos que o sétimo, representam o jogo das águas,  atualizando a lembrança de felicidade que vive, por dois meses, na ilha de Saint-Pierre, na Suíça. Não é por menos que esta obra seja considerada a precursora do Romantismo. Na literatura brasileira também se encontram exemplos: os capítulos Festa e Baleia de Vidas Secas, de Graciliano Ramos; várias passagens de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, além de outras obras de sua autoria. É importante salientar que a primeira vez que a mescla entre poesia e prosa foi evidenciada foi por Platão e Aristóteles, ao comentarem o estilo de Górgias, famoso sofista.

A aplicação de uma prosa poética sugere uma poética de aproximação dos gêneros literários, reagrupando as exceções, como o romance e o romance poético . Não há diferenças marcantes entre os diversos gêneros e técnicas literárias (prosa, poesia), mas repartições variáveis no emprego das funções de linguagem. A função poética ocorre nos poemas e, também, em outros gêneros, como o romance poético, que explora a prosa poética; e, ainda, no poema em prosa. Essa possibilidade se estende à crônica poética, fusão de vários gêneros – empresta do conto, a estrutura de narrativa curta; do poema, as equivalências, manifestadas através de um sistema de ecos, repetições e contrastes.

A prosa poética de Rubem Braga é mescla da prosa comum, cotidiana – marcada pelas ocorrências próprias do texto em prosa e por estrutura parecida com a do conto: enredo, personagens, ação, espaço e tempo definidos – acrescida de aspectos poéticos – ritmo, exploração de imagens através das figuras de linguagem e acoplamentos. É a estrutura em prosa, linear e horizontal, unida à estrutura poética, vertical, isotópica, resultando numa pluralidade de significações superpostas e entrelaçadas, encontradas nas crônicas poéticas de Rubem Braga, as quais oferecem um deleite de leitura justamente por cruzarem fronteiras apenas teoricamente demarcadas e desmarcadas por outras teorias, como essas que pretendem conceituar uma prosa poética.


Para saber mais:
SANDRAS, Michel. (1995). Lire le Poème en Prose. Paris: Dunod.

 



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