TEMPO, TEMPO, TEMPO...
Márcia do Valle
Eu achava que não era preciso ter pressa, que a eternidade estava ao meu lado, que um dia as perguntas não formuladas seriam respondidas, mesmo que demorasse muito. Só que o tempo, quando passa, leva junto as perguntas não formuladas, a vontade que as originou, e até a menina que sentiu essa vontade. O tempo leva cada pessoa numa direção diferente até que parem de se reconhecer. O tempo apaga o que tinha sido rotulado de inesquecível e traz perguntas novas, que se sobrepõe às outras.
Então me pego analisando os pedaços de tempo e tento entender se um ano é muito ou pouco, se dez anos é demais ou não, e encontro situações onde dois anos são uma vida inteira, ao lado de outras épocas quando cinco anos só mudaram as roupas e o corte de cabelo, apesar da distncia física. Isso porque para o tempo, assim como para tudo mais, números são só números, não servem para quantificar sentimentos. E não importa se o seu calendário conta com doze meses ou com treze luas, porque os números, os meses e as luas continuam não dando conta de quantificar o que ficou para trás e o que continua valendo.
Por isso é que olho para a menina que ainda acreditava em para-sempre e nunca-mais, e sinto até saudade. Ela ficou no castelinho de bonecas e acabou desaparecendo para dar lugar a essa outra, cheia de exigências e de determinação para não repetir alguns erros, com cicatrizes por dentro e por fora, tendo canalizado a vontade infinita de cuidar de alguém numa direção bacana e admitindo que o único relacionamento longo que consegue manter é o que nunca começou, e por isso mesmo nunca termina.
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