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De: 2392Marte (Mensaje original) |
Enviado: 07/06/2009 09:48 |
Nasceu no Porto em 1867 e morreu na Foz do Douro em 1900. Cursou Direito em Paris depois de ter reprovado o 1º ano do curso em Coimbra. Regressa com uma licenciatura e a saúde fortemente abalada por uma tuberculose que nío faria mais que agravar-se, obrigando-o a uma vida de irrealizaçío profissional e de pérpetuo vaguear pelo mundo, perseguindo a cura que nunca chegaria a alcançar. A sua adolescência de filho-família, rodeado de cuidados devido a sua constituiçío enfermiça, provoca-lhe crises de neurastenia e de angústia durante os quais se sente irremediavelmente condenado. O desencanto e o seu desespero nío ficam circunscritos á sua pessoa, já que o futuro negro que adivinha englobará todos "Moços do meu país! Vereis entío O que é esta vida, o que é que vos espera... Toda uma sexta-feira de paixío!" Apercebendo-se do seu fim, o tom de sua obra é de saudosismo, dando ao leitor a impressío, mesmo quando fala das romarias e da alegria do seu povo, que as evoca como se as olhasse já de outra vida. Só, estamos perante uma obra singular, pela forma como casa o saudosismo e o simbolismo transportados por uma linguagem emocional única entre os poetas do final do século XIX.
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O sol, qual brigue em chamas, morre Nos longes de água.... Ó tardes de novena! Tardes de sonho em que a poesia escorre E os bardos, a cismar, molham a pena!
Ao longe, os rios de águas prateadas Por entre os verdes canaviais, esguios Sío como estradas líquidas, e as estradas Ao luar, parecem verdadeiros rios!
Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos O xaile pedem a quem vai passando... E os seus leitos nupciais, os ninhos As lavandiscas noivas piando, piando!
O orvalho cai do céu como unguento. Abrem as bocas, aparando-os, os goivos; E a laranjeira, aos repelões do vento, Deixa cair por terra a flor dos noivos.
E o orvalho cai...e a falta de água, rega O vale sem fruto, a terra árida e nua! E o Padre-Oceano, lá de longe, prega O seu sermío de lágrimas à lua!
A Lua! Ela nío tarda aí, espera! O mágico poder que ela possui Sobre as sementes, sobre o oceano impera, Sobre as mulheres grávidas influi...
Ai os meus nervos, quando a lua é cheia! Da arte novas concepções descubro Todo me aflijo, lá fazem ideia... Ai a ascensío da Lua em Outubro!
Tardes de Outubro! Ó tardes de novena Outono! Mêsde Maio, na Lareira! Tardes.....
Lá vem a Lua, gratiae plena Do convento dos céus, a eterna freira!
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O Joío dorme...(ò Maria, Dize àquela cotovia Que fale mais devagar; Nío vá, o joío, acordar...). Tem só um palmo de altura E nem meio de largura: Para o amigo orangotango O Joío seria... um morango! Podia engoli-lo um leío Quando nasce! As pombas sío Um poucochinho maiores... Mas os astros sío menores! O Joío dorme...Que regalo! Deixá-lo dormir, deixá-lo! Calai-vos, águas do moinho! Ó mar! fala mais baixinho... E tu míe! e tu, Maria! Pede àquela cotovia Que fale mais devagar: Nío vá, o Joío,acordar... O Joío dorme, o inocente! Dorme, dorme eternamente, Teu calmo sono profundo! Nío acordes para o mundo, Pode levar-te a maré: Tu mal sabes o que isto é... Ó míe! canta-lhe a cançío, Os versos do teu irmío: "Na vida que a dor povoa, Há só uma coisa boa, Que é dormir, dormir, dormir... Tudo vai sem se sentir". Deixa-o dormir, até ser Um velhinho...até morrer! E tu vêlo-ás crescendo A teu lado (estou-o vendo Joío! que rapaz tío lindo!) Mas sempre, sempre dormindo... Depois, um dia virá Que (dormindo) passará Do berço, onde agora dorme, Para outro, grande, enorme: E as pombas que eram maiores Que Joío...ficarío menores! Mas para isso, ó Maria! Dize àquela cotovia Que fale mais devagar: Nío vá, o Joío, acordar... E os anos irío passando. Depois já velhinho, quando (serás velhinha também) Perder a cor que, hoje, tem, Perder as cores vermelhas E for cheiinho de engelhas, Morrerá sem o sentir, Isto é, deixa de dormir: Acorda e regressa ao seio De Deus, que é donde ele veio... Mas para isso, ó Maria! Pede aquela cotovia Que fale mais devagar: Nío vá, o Joío, acordar...
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Deus fez a noite com o teu olhar, Deus fez as ondas com os teus cabelos; Com a tua coragem fez castelos Que pôs, como defesa, à beira-mar.
Com um sorriso teu, fez o luar (Que é sorriso de noite, ao viandante) E eu que andava pelo mundo, errante, Já nío ando perdido em alto-mar!
Do céu de Portugal fez a tua alma! E ao ver-te sempre assim, tío pura e calma, Da minha noite, eu fiz a Claridade!
Ó meu anjo de luz e de esperança, Será, em ti afinal que descansa O triste fim da minha mocidade!
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Português antigo, do tempo da guerra, Levou-o o Destino pra longe da terra.
Passaram os anos, a Borba voltou, Que linda menina que, um dia, encontrou!
Que linhas fidalgas e que olhos castanhos! E, um dia, na Igreja correram os banhos.
Mais tarde, debaixo dum signo mofino, Pela lua-nova, nasceu um menino.
Ó míes dos Poetas! sorrindo em seu quarto, Que sío virgens antes e depois do parto!
Num berço de prata, dormia deitado, Três moiras vieram dizer-lhe o seu fado.
(E abria o menino seus olhos tío doces) : "Serás um Príncipe! mas antes. . . nío fôsses."
Sucede, no entanto, que o Outono veio E, um dia, ela resolve dar um passeio.
Calçou as sandálias, toucou-se de flôres, Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores: "Vou ali adiante, à Cova, em berlinda, Antônio, e já volto. . . " E nío voltou ainda!
Vai o Espôso, vendo que ela nío voltava, Vai lá ter com ela, por lá se quedava.
Ó homem egrégio! de estirpe divina, De alma de bronze e coraçío de menina!
Em vío corri mundos, nío vos encontrei Por vales que fôra, por êles voltei.
E assim se criou um anjo, o Diabo, o lua; Ai corre o seu fado! a culpa nío é sua!
Sempre é agradável ter um filho Virgílio, Ouvi êstes carmes que eu compus no exílio,
Ouvi-os vós todos, meus bons Portuguêses! Pelo cair das fôlhas, o melhor dos meses,
Mas, tende cautela, nío vos faça mal. . . Que é o livro mais triste que há em Portugal!
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Outono. O sol, qual brigue em chamas, morre Nos longes de água.... Ó tardes de novena! Tardes de sonho em que a poesia escorre E os bardos, a cismar, molham a pena!
Ao longe, os rios de águas prateadas Por entre os verdes canaviais, esguios Sío como estradas líquidas, e as estradas Ao luar, parecem verdadeiros rios!
Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos O xaile pedem a quem vai passando... E os seus leitos nupciais, os ninhos As lavandiscas noivas piando, piando!
O orvalho cai do céu como unguento. Abrem as bocas, aparando-os, os goivos; E a laranjeira, aos repelões do vento, Deixa cair por terra a flor dos noivos.
E o orvalho cai...e a falta de água, rega O vale sem fruto, a terra árida e nua! E o Padre-Oceano, lá de longe, prega O seu sermío de lágrimas à lua!
A Lua! Ela nío tarda aí, espera! O mágico poder que ela possui Sobre as sementes, sobre o oceano impera, Sobre as mulheres grávidas influi...
Ai os meus nervos, quando a lua é cheia! Da arte novas concepções descubro Todo me aflijo, lá fazem ideia... Ai a ascensío da Lua em Outubro!
Tardes de Outubro! Ó tardes de novena Outono! Mêsde Maio, na Lareira! Tardes.....
Lá vem a Lua, gratiae plena Do convento dos céus, a eterna freira!
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Virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas a cantar!
Eu quero ouvir uma cançío ardente,
Que me transporte ao meu perdido lar.
Cantai-me nessa voz onipotente,
O sol que tomba, aureolando o mar
A fartura da seara reluzente,
o vinho, a graça, a formosura, o luar!
Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruinas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas.
Que eu vi morrer num sonho, como um
ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz...cantai
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E a Vida foi, e é assim, e nío melhora. Esforço inútil. Tudo é ilusío. Quantos nío cismam nisso mesmo a esta hora Com uma taça, ou um punhal na mío!
Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora! Quimeras, sonhos, bolas de sabío. E a tortura do Além e quem lá mora! Isso é, talvez, minha única afliçío.
Toda a dor pode suportar-se, toda! Mesmo a da noiva morta em plena boda, Que por mortalha leva... essa que traz.
Mas uma nío: é a dor do pensamento! Ai quem me dera entrar nesse convento Que há além da Morte e que se chama A Paz!
Lisboa, Ulisseia, 1989 (or. 1892), p. 208
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Tombou da haste a flor da minha infncia alada. Murchou na jarra de oiro o pudico jasmim: Voou aos altos céus a pomba enamorada Que dantes estendia as asas sobre mim.
Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada, E que era sempre dia, e nunca tinha fim Essa visío de luar que vivia encantada, Num castelo com torres de marfim!
Mas, hoje, as pombas de oiro, aves da minha infncia, Que me enchiam de lua o coraçío, outrora, Partiram e no céu evolam-se à distancia!
Debalde clamo e choro, erguendo aos céus meus ais: Voltam na asa do vento os aias que a alma chora, Elas, porém, senhor, elas nío voltam mais...
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Ó grande alma trágica e sombria!
Quando hás-de enfim, na campa repousar?
Após a luta persistente e fria,
Ah, quanto é bom morrer...dormir...sonhar...
Estrebuchas nas nsias da agônia,
Há mil e tantos séculos, ó Mar!
E nunca cessas de lutar, um dia,
E nunca morres, alma singular!
Mas, ao chegar teu último momento
quando surgir nos ares a metralha
Da tua alma desfraldada ao vento:
Envolto dessa líquida mortalha,
Tu cairás prostrado, em alento,
como um guerreiro ao fim d'uma batalha!
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às vezes, passo horas inteiras Olhos fitos nestas Traseiras, Sonhando o tempo que lá vai; E jornadeio em fantasia Essas jornadas que eu fazia Ao velho Douro, mais meu Pai.
Que pitoresca era a jornada! Logo, ao subir da madrugada, Prontos os dois para partir: — Adeus! adeus! é curta a ausência, Adeus! — rodava a diligência Com campainhas a tinir!
E, dia e noite, aurora a aurora, Por essa doida terra fora, Cheia de Cor, de Luz, de Som, Habituado à minha alcova Em tudo eu via coisa nova, Que bom era, meu Deus! que bom!
Moinhos ao vento! Eiras! Solares! Antepassados! Rios! Luares! Tudo isso eu guardo, aqui ficou: ó paisagem etérea e doce, Depois do Ventre que me trouxe A ti devo eu tudo que soul
No arame oscilante do Fio, Amavam (era o mês do cio) Lavandiscas e tentilhões... Águas do rio vío passando Muito mansinhas, mas, chegando Ao Mar, transformam-se em leões!
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Ao Sol, fulgura o Oiro dos milhos! Os lavradores mai-los filhos A terra estrumam, e depois Os bois atrelam ao arado E ouve-se além, no descampado Num ímpeto, aos berros: - Eh! bois!
E, enquanto a velha mala-posta, A custo vai subindo a encosta Em mira ao lar dos meus Avós, Os aldeíos, de longe, alerta, Olham pasmados, boca aberta... A gente segue e deixa-os sós.
Que pena faz ver os que ficam! Pobres, humildes, nío implicam, Tiram com respeito o chapéu: Outros, passando a nosso lado, Diziam: "Deus seja louvado!" "Louvado sejal" dizia eu.
E, meiga, tombava a tardinha... No chío, jogando a vermelhinha, Outros vejo a discutir. Carpiam, místicas, as fontes... Água fria de Trás-os-Montes Que faz sede só de se ouvir!
E, na subida de Novelas, O rubro e gordo Cabanelas Dava-me as guias para a mío: Isso... queriam os cavalos! Que eu nío podia chicoteá-los... Era uma dor de coraçío.
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