" Orquídea "
Está em teu corpo, como a flor sobre o abismo presa ao ramo oscilante num aceno de vida ou de morte.
Flor de sombra e mistério, nascida em teu corpo, velada, escondida, rara orquídea na penumbra da mata entre réstias de sol.
Diante dela me ajoelho, como num altar, deslumbrado de vê-la, e quero então alcançá-la... e a alcanço sempre, sem colhê-la...
Flor de sombra e mistério flor de nuvens e de algas flor de líquens que me atrai, que colho sempre... me deslumbra e foge, e de repente, se esvai.. .
J.G. de Araujo Jorge
Si
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" Teus Olhos Negros, Tua Tez Morena "
Fascina-me a brancura da açucena - as flores alvas são as mais bonitas – mas me atraem com forças infinitas teus olhos negros, tua tez morena. Como as flores, também, casta e serena, aos desejos de amar, por certo, incitas, porém só vejo, em nsias vãs, aflitas, teus olhos negros, tua tez morena Arrastaria tudo, humildemente (a alma, livre da angústia que a condena), para ter-te afinal sempre presente, e se adorar-te fosse a minha pena, amaria em silêncio, eternamente, teus olhos negros... tua tez morena. ( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro "Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou" Vol. IV - 1a edição 1965)
Primavera
O teu amor, querida,
fez um dia de primavera
neste começo de outono
que é a minha vida.
E do ramo, de onde as primeiras folhas se soltavam
pálidas, sem cor,
surgiu uma flor imprevista:
o teu amor...
Teu amor chegou assim, como uma coisa que no fundo
se deseja
mas não se espera,
emocionando o coração, neste começo de outono
como um dia de primavera!
JG de Araujo Jorge
Si
Silenciosamente
Seguimos assim, juntos, felizes,
Juntos, felizes, pela vida a fora...
- Tu, no silêncio em que mais coisas dizes !
- Eu, no silêncio em que me encontro agora !
Meu passo há de seguir por onde pises!
E a tua mão, que em minha mão demora,
há de, com o tempo, até criar raízes,
unindo vida a vida, hora por hora...
Seguiremos assim, como bem poucos,
bendizendo na nossa trajetória
os que souberam como nós ser loucos...
Loucos de amor, ébrios de amor - seguindo
para um mundo de sonhos, para a glória
do silêncio que vamos repartindo!
JG de Araujo Jorge
Si
A Casa Abandonada
Abro a janela da minha alma e espio:
- tudo é negro é completa a escuridão...
Nesse estranho lugar, triste e vazio,
hoje habita somente a solidão
Há teias de saudade em cada canto,
e a poeira de um amor cobre o seu chão...
São sombrias as salas, - velho encanto
há nesse feio e escuro casarão
Uma ruína em meu peito, abandonada,
com muros desbotados... cheios de hera...
-como um túmulo à beira de uma estrada ,
que nada mais desta existência espera...
O tempo, pouco a pouco, já a consome,
- outrora, por exemplo - havia um nome
de mulher, no portal, mas se apagou...
Quantos homens como eu, na alma fechada,
vão levando uma casa abandonada
de onde alguém que partiu não mais voltou!..
J. G. de Araujo Jorge
Si
" Esperança "
Ainda resta afinal intacto o coração
e puro o sonho que como a flor singular e misteriosa
fizeste nascer da pedra lisa.
E ainda podemos como os marinheiros nos mirantes
colocar a mão sobre os olhos para atingir a distancia maior
dos horizontes.
Quando há coração e há caminhos
ainda resta a esperança para o amor.
J. G. de Araujo Jorge
Si
Inquietação
Trago dentro dos olhos essa cor da distncia
quando o mar e o céu se misturam
e há um pouco de mar no céu
e há um pouco de céu no mar...
Que mundo imenso o mundo que há no meu olhar
Sinto nos braços ímpetos de
ventos que se atiram para longe, sem caminhos,
cirandando redemoinhos
cantando pelas montanhas
correndo pelas planícies
brincando por sobre o mar.. .
Ímpetos de ventos boêmio, sem destino,
cirandando
cantando
correndo
brincando
mas sempre a avançar... a avançar... a avançar! ...
Sinto o desejo estranho de tocar o além
e essa inquietude de quem tudo quer
sem procurar ninguém!
Meus pés querem achar caminhos que não findem
adivinhados na imaginação,
-caminhos que avancem sempre, como cegos,
dobrando a esquina azul dos horizontes
sabendo apenas que seguem
mas sem saber aonde vão!
Trago as nsias divinas de um predestinado
que se atira ao que outros desconhecem
levado por eterno e misterioso anseio...
O que eu quero, não sei.
Não quero o tudo se consigo o tudo
e acho sempre que o tudo que consigo
vale menos que o pouco que não veio!
Quero sempre o que os olhos adivinham
e abandono o que o corpo já sentiu
e o que a mão alcançou
perto demais,
nessa nsia de saber o que me vem depois,
vale mais para mim a emoção que se esboça
que toda essa vida que deixei pra trás!
Sinto que no meu Ser há essa mistura estranha
de um pedaço de céu
de um punhado de terra
e de um pouco de oceano.. .
Há o céu no meu olhar vadio e distraído
a inquietação do mar na minha alma de poeta
e a terra, no meu sangue ardente de cigano!
Trago as nsias divinas de um predestinado
e esse destino audaz de um incomum!
Nasci para cantar
amar e ser amado
ter todos os destinos e não ter nenhum!...
J. G. de Araujo Jorge
Si
Mentira...
Tanta cousa passou... E, no entanto, vivemos
noutros tempos, felizes, como namorados...
- Nossa vida... ora a vida, era um barco sem remos,
levando-nos ao léu... a sonhar acordados...
Ontem juntos, felizes... hoje, separados,
- (não pensei que este amor chegasse a tais extremos...)
E sorrimos em vão... sorrimos conformados
na mentira cruel de que a tudo esquecemos. . .
Cruzamos nossos passos muita vez: - é a vida!
- eu, volto o rosto (fraco à paixão que ainda sinto),
tu, recalcando o amor, nem me olhas, distraída...
Mentira inútil, cruel... se ontem, tal como agora,
tu sabes que padeço, sabes quanto eu minto,
e eu sei quanto este amor te atormenta e devora !
JG de Araujo Jorge
Si
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