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Enviado: 21/10/2006 06:24 |
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ELA VEIO!
Como a Luz, como a Sombra, como a Vaga,
como a Noite...
Foi assim que ela veio. Subtilmente
me enredou na volúpia misteriosa
de suas falas mansas quase mudas.
Não mais teve sentido o meu relógio.
Eram folhas no Outono as folhas brancas
do calendário.
Afogado e perdido, sem remédio,
só me ficou de fora a mão direita
para deixar escritos...
estes meus derradeiros versos...
(Sebastião da Gama )
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:20 |
A VERDADE ERA BELA
A Verdade era bela,
como vinha nos livros.
à beirinha das águas
a verdade era bela.
Os que deram por ela
abriram-se e contaram
que a verdade era bela.
Quase todos se riram.
Os que punham nos livros
que a verdade era bela,
muito mais que os outros.
A verdade era bela
mas doía nos olhos
mas doía nos lábios
mas doía no peito
dos que davam por ela.
( Sebastião da Gama )
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:21 |
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CANçãO DE GUERRA
Aos fracos e aos covarde
não lhes darei lugar
dentro dos meus poemas .
Covarde já eu sou.
Fraco, já o sou demais,
e se entre fracos for
me perderei também.
Quero é gente animosa
que olhe de frente a Vida,
que faça medo à Morte.
Com esses quero ir,
a ver se me convenço
de que também sou forte.
Quero vencer os medos ...
Vencer-me – que sou poço
de estúpidos terrores,
de femenis fraquezas.
Rir-me das sombras, rir-me
das velhas ondas bravas,
rir-me do meu temor
do que há-de acontecer.
Venham comigo os fortes ...
Façam-me ter vergonha
das minhas covardias.
E dos seus actos façam
(seus actos destemidos)
chicotes pelos meus nervos.
Ganhe o meu sangue a cor
das tardes das batalhas.
E eu vá – rasgue as cortinas
que velam o Porvir.
Vá – jovem, confiado,
cumprindo o meu destino
de não ficar parado.
( Sebastião da Gama )
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:22 |
AGUARELA
Sebastião da Gama
Virgem de tudo, brinca
ao Sol uma menina.
Tem ainda no corpo
embalos do berço.
Tem ainda nos lábios
Sabor do leite da Mãe.
A menina brinca,
virgem de tudo.
Ao alto o Sol , doira
seu cabelos pretos.
E a menina pensa
(não pensa que sente)
sente que são loiros
seus cabelos pretos.
( Sebastião da Gama )
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:26 |
AS CRIANçAS
Olhavam para tudo extasiadas.
Puras, em casa rosa, em cada pedra,
viam beleza eterna e absoluta.
Seus olhos primitivos resumiam
a intacta poesia da Manhã.
(Sebastião da Gama)
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:27 |
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Cantilena
Cortaram as asas
ao rouxinol
Rouxinol sem asas
não pode voar.
Quebraram-te o bico,
rouxinol!
Rouxinol sem bico
não pode cantar.
Que ao menos a Noite
ninguém, rouxinol!,
ta queira roubar.
Rouxinol sem Noite
não pode viver.
Sebastião da Gama
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:27 |
A UMA RAPARIGA
Somos assim aos dezassete. Sabemos lá que a Vida é ruim! A tudo amamos, tudo cremos. Aos dezassete eu fui assim.
Depois, Acilda, os livros dizem, dizem os velhos, dizem todos: "A Vida é triste. a Vida leva, a um e um, todos os sonhos."
Deixá-los lá falar os velhos, deixá-los lá... A Vida é ruim? Aos vinte e seis eu amo, eu creio. Aos vinte e seis eu sou assim.
Sebastião da Gama
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:28 |
LEMBRAS-TE ?
A Oliveira era velha!
mas no seu tronco risonho
é que te contei um dia
como nascera o meu sonho.
Eu... era a vida futura...
Ela... a vida que passou...
Porém o sonho desfez-se
e a Oliveira ficou!
(SG)
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:29 |
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FORMA
Quando tu apareces ( e então verás
a minha única grandeza)
a Obra que te fiz hei de a queimar;
não deves conhecer esse caminho
mal talhado, que fiz para te chegar.
Tão pertinho do Céu te encontrarei,
tão longe de ser mulher,
que te hei de receber, divina, nos meus braços,
sem teres corpo sequer.
Eu só Amor, te prenderei na Forma;
é para seres mais de mim
que as minhas mãos, que Deus abençoou,
te darão os contornos que não tens.
No modelar teus braços e teu peito,
alcançarei, contigo, a perfeição
e é esse o meu poema;
o milagre daquela criação.
Mas é melhor, Amor, não te atingir,
meu Espírito azul.
- Tocasse em ti
a minha mão ansiosa e havias de cair,
maculada no homem que eu nasci.
(Sebastião da Gama)
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:30 |
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O Menino Grande
Também eu, também eu.
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...
Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho;
os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
Vida!,
não me venhas roubar o meu tesoiro:
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se eu riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso...
(Eu tinha um bibe azul...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...
A minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe...
Sebastião da Gama
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De: FOFUCHA |
Enviado: 05/12/2009 14:31 |
INSCRIçãO
Nada sabe do Mar,
quem não morreu no Mar.
Calem-se os poetas
e digam só metade
os que andam sobre as ondas
suspensos por um fio.
Sabe tudo do Mar
quem no Mar perdeu tudo.
Mas dorme lá no fundo,
tem os lábios selados,
e os olhos, que reflectem
e claramente explicam
os mistérios do Mar,
para sempre fechados.
(Sebastião da Gama)
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