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De: Jatoai (Mensaje original) |
Enviado: 11/12/2009 12:03 |
MEU ANJO
Meu anjo tem o encanto, a maravilha Da espontnea canção dos passarinhos; Tem os seios tão alvos, tão macios Como o pêlo sedoso dos arminhos.
Triste de noite na janela a vejo E de seus lábios o gemido escuto É leve a criatura vaporosa Como a frouxa fumaça de um charuto.
Parece até que sobre a fronte angélica Um anjo lhe depôs coroa e nimbo... Formosa a vejo assim entre meus sonhos Mais bela no vapor do meu cachimbo.
Como o vinho espanhol, um beijo dela Entorna ao sangue a luz do paraíso. Dá morte num desdém, num beijo vida, E celestes desmaios num sorriso!
Mas quis a minha sina que seu peito Não batesse por mim nem um minuto, E que ela fosse leviana e bela Como a leve fumaça de um charuto!
(Autoria:Álvares de Azevedo ) |
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:04 |
Meu Desejo
Meu desejo? Era ser a luva branca Que essa tua gentil mãozinha aperta; A camélia que murcha no teu seio, O anjo que por te ver do céu deserta... Meu desejo? Era ser o sapatinho Que teu mimoso pé no baile encerra... A esperança que sonhas no futuro, As saudades que tens aqui na terra... Meu desejo? Era ser o cortinado Que não conta os mistérios de teu leito; Era de teu colar de negra seda Ser a cruz com que dormes sobre o peito. Meu desejo? Era ser o teu espelho Que mais bela te vê quando deslaças Do baile as roupas de escomilha e flores E mira-te amoroso as nuas graças! Meu desejo? Era ser desse teu leito De cambraia o lençol, o travesseiro Com que velas o seio, onde repousas, Solto o cabelo, o rosto feiticeiro... Meu desejo? Era ser a voz da terra Que da estrela do céu ouvisse amor! Ser o amante que sonhas, que desejas Nas cismas encantadas de langor!
Alvares De Azevedo
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:04 |
Luar de verão
Álvares de Azevedo
O que vês, trovador? - Eu vejo a lua Que sem lavar a face ali passeia; No azul do firmamento inda é mais pálida Que em cinzas do fogão uma candeia.
O que vês, trovador? - No esguio tronco Vejo erguer-se o chinó de uma nogueira... além se encontra a luz sobre um rochedo Tão liso como um pau de cabeleira.
Nas praias lisas a maré enchente Sespraia cintilante dardentia... Em vez de aromas as doiradas ondas Respiram efluviosa maresia!
O que vês, trovador? - No céu formoso Ao sopro dos favônios feiticeiros Eu vejo - e tremo de paixão ao vê-las - As nuvens a dormir, como carneiros.
E vejo além, na sombra do horizonte, Como viúva moça envolta em luto, Brilhando em nuvem negra estrela viva Como na treva a ponta de um charuto.
Teu romantismo bebo, ó minha lua, A teus raios divinos me abandono, Torno-me vaporoso... e só de ver-te Eu sinto os lábios meus se abrirem de sono.
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:05 |
Lágrimas de sangue
Álvares de Azevedo
Ao pé das aras no clarão dos círios Eu te devera consagrar meus dias; Perdão, meu Deus! perdão Se neguei meu Senhor nos meus delírios E um canto de enganosas melodias Levou meu coração! Só tu, só tu podias o meu peito Fartar de imenso amor e luz infinda E uma Saudade calma; Ao sol de tua fé doirar meu leito E de fulgores inundar ainda A aurora na minhalma. Pela treva do espírito lancei-me, Das esperanças suicidei-me rindo... Sufoquei-as sem dó. No vale dos cadáveres sentei-me E minhas flores semeei sorrindo Dos túmulos no pó. Indolente Vestal, deixei no templo A pira se apagar - na noite escura O meu gênio descreu. Voltei-me para a vida... só contemplo A cinza da ilusão que ali murmura: Morre! - tudo morreu! Cinzas, cinzas... Meu Deus! só tu podias à alma que se perdeu bradar de novo: Ressurge-te ao amor! Malicento, da minhas agonias Eu deixaria as multidões do povo Para amar o Senhor! Do leito aonde o vício acalentou-me O meu primeiro amor fugiu chorando. Pobre virgem de Deus! Um vendaval sem norte arrebatou-me, Acordei-me na treva... profanando Os puros sonhos meus! Oh! se eu pudesse amar!... - É impossível! Mão fatal escreveu na minha vida; A dor me envelheceu. O desespero pálido, impassível Agoirou minha aurora entristecida, De meu astro descreu. Oh! se eu pudesse amar! Mas não: agora Que a dor emurcheceu meus breves dias, Quero na cruz sangrenta Derramá-los na lágrima que implora, Que mendiga perdão pela agonia Da noite lutulenta! Quero na solidão - nas ermas grutas A tua sombra procurar chorando Com meu olhar incerto: As pálpebras doridas nunca enxutas Queimarei... teus fantasmas invocando No vento do deserto. De meus dias a lmpada se apaga: Roeram meu viver mortais venenos; Curvo-me ao vento forte. Teu fúnebre clarão que a noite alaga, Como a estrela oriental me guie ao menos Té o vale da morte! No mar dos vivos o cadáver bóia - A lua é descorada como um crnio, Este sol não reluz: Quando na morte a pálpebra se engóia, O anjo se acorda em nós - e subitneo Voa ao mundo da luz! Do val de Josafá pelas gargantas Uiva na treva o temporal sem norte E os fantasmas murmuram... Irei deitar-me nessas trevas santas, Banhar-me na frieza lustral da morte Onde as almas se apuram! Mordendo as clinas do corcel da sombra, Sufocando, arquejante passarei Na noite do infinito. Ouvirei essa voz que a treva assombra, Dos lábios de minhalma entornarei O meu cntico aflito! Flores cheias de aroma e de alegria, Por que na primavera abrir cheirosas E orvalhar-vos abrindo? As torrentes da morte vêm sombrias, Hão de amanhã nas águas tenebrosas Vos rebentar bramindo. Morrer! morrer! É voz das sepulturas! Como a lua nas salas festivais A morte em nós se estampa! E os pobres sonhadores de venturas Roxeiam amanhã nos funerais E vão rolar na campa! Que vale a glória, a saudação que enleva Dos hinos triunfais na ardente nota, E as turbas devaneia? Tudo isso é vão, e cala-se na treva - Tudo é vão, como em lábios de idiota Cantiga sem idéia. Que importa? quando a morte se descarna, A esperança do céu flutua e brilha Do túmulo no leito: O sepulcro é o ventre onde se encama Um verbo divinal que Deus perfilha E abisma no seu peito! Não chorem! que essa lágrima profunda Ao cadáver sem luz não dá conforto... Não o acorda um momento! Quando a treva medonha o peito inunda, Derrama-se nas pálpebras do morto Luar de esquecimento! Caminha no deserto a caravana, Numa noite sem lua arqueja e chora... O termo... é um sigilo! O meu peito cansou da vida insana; Da cruz à sombra, junto aos meus, agora Eu dormirei tranqüilo! Dorme ali muito amor... muitas amantes, Donzelas puras que eu sonhei chorando E vi adormecer. Ouço da terra cnticos errantes, E as almas saudosas suspirando, Que falam em morrer... Aqui dormem sagradas esperanças, Almas sublimes que o amor erguia... E gelaram tão cedo! Meu pobre sonhador! aí descansas, Coração que a existência consumia E roeu um segredo! ... Quando o trovão romper as sepulturas, Os crnios confundidos acordando No lodo tremerão. No lodo pelas tênebras impuras Os ossos estalados tiritando Dos vales surgirão! Como rugindo a chama encarcerada Dos negros flancos do vulcão rebenta Gotejando nos céus, Entre nuvem ardente e trovejada Minhalma se erguerá, fria, sangrenta, Ao trono de meu Deus... Perdoa, meu Senhor! O errante crente Nos desesperos em que a mente abrasas Não o arrojes plo crime! Se eu fui um anjo que descreu demente E no oceano do mal rompeu as asas,
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:08 |
Lágrimas de sangue
Álvares de Azevedo
Ao pé das aras no clarão dos círios Eu te devera consagrar meus dias; Perdão, meu Deus! perdão Se neguei meu Senhor nos meus delírios E um canto de enganosas melodias Levou meu coração! Só tu, só tu podias o meu peito Fartar de imenso amor e luz infinda E uma Saudade calma; Ao sol de tua fé doirar meu leito E de fulgores inundar ainda A aurora na minhalma. Pela treva do espírito lancei-me, Das esperanças suicidei-me rindo... Sufoquei-as sem dó. No vale dos cadáveres sentei-me E minhas flores semeei sorrindo Dos túmulos no pó. Indolente Vestal, deixei no templo A pira se apagar - na noite escura O meu gênio descreu. Voltei-me para a vida... só contemplo A cinza da ilusão que ali murmura: Morre! - tudo morreu! Cinzas, cinzas... Meu Deus! só tu podias à alma que se perdeu bradar de novo: Ressurge-te ao amor! Malicento, da minhas agonias Eu deixaria as multidões do povo Para amar o Senhor! Do leito aonde o vício acalentou-me O meu primeiro amor fugiu chorando. Pobre virgem de Deus! Um vendaval sem norte arrebatou-me, Acordei-me na treva... profanando Os puros sonhos meus! Oh! se eu pudesse amar!... - É impossível! Mão fatal escreveu na minha vida; A dor me envelheceu. O desespero pálido, impassível Agoirou minha aurora entristecida, De meu astro descreu. Oh! se eu pudesse amar! Mas não: agora Que a dor emurcheceu meus breves dias, Quero na cruz sangrenta Derramá-los na lágrima que implora, Que mendiga perdão pela agonia Da noite lutulenta! Quero na solidão - nas ermas grutas A tua sombra procurar chorando Com meu olhar incerto: As pálpebras doridas nunca enxutas Queimarei... teus fantasmas invocando No vento do deserto. De meus dias a lmpada se apaga: Roeram meu viver mortais venenos; Curvo-me ao vento forte. Teu fúnebre clarão que a noite alaga, Como a estrela oriental me guie ao menos Té o vale da morte! No mar dos vivos o cadáver bóia - A lua é descorada como um crnio, Este sol não reluz: Quando na morte a pálpebra se engóia, O anjo se acorda em nós - e subitneo Voa ao mundo da luz! Do val de Josafá pelas gargantas Uiva na treva o temporal sem norte E os fantasmas murmuram... Irei deitar-me nessas trevas santas, Banhar-me na frieza lustral da morte Onde as almas se apuram! Mordendo as clinas do corcel da sombra, Sufocando, arquejante passarei Na noite do infinito. Ouvirei essa voz que a treva assombra, Dos lábios de minhalma entornarei O meu cntico aflito! Flores cheias de aroma e de alegria, Por que na primavera abrir cheirosas E orvalhar-vos abrindo? As torrentes da morte vêm sombrias, Hão de amanhã nas águas tenebrosas Vos rebentar bramindo. Morrer! morrer! É voz das sepulturas! Como a lua nas salas festivais A morte em nós se estampa! E os pobres sonhadores de venturas Roxeiam amanhã nos funerais E vão rolar na campa! Que vale a glória, a saudação que enleva Dos hinos triunfais na ardente nota, E as turbas devaneia? Tudo isso é vão, e cala-se na treva - Tudo é vão, como em lábios de idiota Cantiga sem idéia. Que importa? quando a morte se descarna, A esperança do céu flutua e brilha Do túmulo no leito: O sepulcro é o ventre onde se encama Um verbo divinal que Deus perfilha E abisma no seu peito! Não chorem! que essa lágrima profunda Ao cadáver sem luz não dá conforto... Não o acorda um momento! Quando a treva medonha o peito inunda, Derrama-se nas pálpebras do morto Luar de esquecimento! Caminha no deserto a caravana, Numa noite sem lua arqueja e chora... O termo... é um sigilo! O meu peito cansou da vida insana; Da cruz à sombra, junto aos meus, agora Eu dormirei tranqüilo! Dorme ali muito amor... muitas amantes, Donzelas puras que eu sonhei chorando E vi adormecer. Ouço da terra cnticos errantes, E as almas saudosas suspirando, Que falam em morrer... Aqui dormem sagradas esperanças, Almas sublimes que o amor erguia... E gelaram tão cedo! Meu pobre sonhador! aí descansas, Coração que a existência consumia E roeu um segredo! ... Quando o trovão romper as sepulturas, Os crnios confundidos acordando No lodo tremerão. No lodo pelas tênebras impuras Os ossos estalados tiritando Dos vales surgirão! Como rugindo a chama encarcerada Dos negros flancos do vulcão rebenta Gotejando nos céus, Entre nuvem ardente e trovejada Minhalma se erguerá, fria, sangrenta, Ao trono de meu Deus... Perdoa, meu Senhor! O errante crente Nos desesperos em que a mente abrasas Não o arrojes plo crime! Se eu fui um anjo que descreu demente E no oceano do mal rompeu as asas, Perdão! arrependi-me!
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:08 |
Idéias Íntimas I
Ossian o bardo é triste como a sombra Que seus cantos povoa. O Lamartine É monótono e belo como a noite, Como a lua no mar e o som das ondas Mas pranteia uma eterna monodia, Tem na lira do gênio uma só corda, Fibra de amor e Deus que um sopro agita: Se desmaia de amor a Deus se volta, Se pranteia por Deus de amor suspira.Basta de Shakespeare.
Vem tu agora, Fantástico alemão, poeta ardente Que ilumina o clarão das gotas pálidas Do nobre Johannisberg! Nos teus romances Meu coração deleita?se. . . Contudo Parece?me que vou perdendo o gosto, Vou ficando blasé, passeio os dias Pelo meu corredor, sem companheiro, Sem ler, nem poetar. Vivo fumando. Minha casa não tem menores névoas Que as deste céu dinverno. . . Solitário Passo as noites aqui e os dias longos; Dei?me agora ao charuto em corpo e alma; Debalde ali de um canto um beijo implora, Como a beleza que o Sultão despreza, Meu cachimbo alemão abandonado! Não passeio a cavalo e não namoro; Odeio o lansquenê. . . Palavra dhonra: Se assim me continuam por dois meses Os diabos azuis nos frouxos membros, Dou na Praia Vermelha ou no Parnaso.
Alvares de Azevedo
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:09 |
Idéias Íntimas II
Alvares de Azevedo
Enchi o meu salão de mil figuras. Aqui voa um cavalo no galope, Um roxo dominó as costas volta A um cavaleiro de alemães bigodes, Um preto beberrão sobre uma pipa, Aos grossos beiços a garrafa aperta. . . Ao longo das paredes se derramam Extintas inscrições de versos mortos, E mortos ao nascer. . . Ali na alcova Em águas negras se levanta a ilha Romntica, sombria à flor das ondas De um rio que se perde na floresta. . . Um sonho de mancebo e de poeta, El?Dorado de amor que a mente cria Como um Éden de noites deleitosas.... Era ali que eu podia no silêncio Junto de um anjo. . . Além o romantismo! Borra adiante folgaz caricatura Com tinta de escrever e pó vermelho A gorda face, o volumoso abdômen, E a grossa penca do nariz purpúreo Do alegre vendilhão entre botelhas Metido num tonel... Na minha cômoda Meio encerado o copo inda verbera As águas doiro do Cognac fogoso. Negreja ao pé narcótica botelha Que da essência de flores de laranja Guarda o licor que nectariza os nervos. Ali mistura?se o charuto Havano Ao mesquinho cigarro e ao meu cachimbo. A mesa escura cambaleia ao peso Do titnio Digesto, e ao lado dele Childe Harold entreaberto ou Lamartine. Mostra que o romanismo se descuida E que a poesia sobrenada sempre Ao pesadelo clássico do estudo.
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:09 |
Pálida Inocência
Por que, pálida inocência, Os olhos teus em dormência A medo lanças em mim? No aperto de minha mão Que sonho do coração Tremeu-te os seios assim?
E tuas falas divinas Em que amor lnguida afinas Em que lnguido sonhar? E dormindo sem receio Por que geme no teu seio Ansioso suspirar?
Inocência! Quem dissera De tua azul primavera As tuas brisas de amor! Oh! Quem teus lábios sentira E que trêmulo te abrira Dos sonhos a tua flor!
Quem te dera a esperança De tua alma de criança, Que perfuma teu dormir! Quem dos sonhos te acordasse, Que num beijo tembalasse Desmaiada no sentir!
Quem te amasse! E um momento Respirando o teu alento Recendesse os lábios seus! Quem lera, divina e bela, Teu romance de donzela Cheio de amor e de Deus!´´
Álvarez de Azevedo
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De: Jatoai |
Enviado: 11/12/2009 12:10 |
A lagartixa (Álvares de Azevedo) A lagartixa ao sol ardente vive E fazendo verão o corpo espicha: O clarão de teus olhos me dá vida, Tu és o sol e eu sou a lagartixa. Amo-te como o vinho e como o sono, Tu és meu copo e amoroso leito... Mas teu néctar de amor jamais se esgota, Travesseiro não há como teu peito. Posso agora viver: para coroas Não preciso no prado colher flores; Engrinaldo melhor a minha fronte Nas rosas mais gentis de teus amores Vale todo um harém a minha bela, Em fazer-me ditoso ela capricha... Vivo ao sol de seus olhos namorados, Como ao sol de verão a lagartixa.
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