Feridas na Alma
Letícia Thompson
Feridas na alma são aquelas que doem mesmo quando
não vemos mais o machucado;
quando o que causou a ferida não está mais presente e,
portanto, no silêncio da noite voltam e incomodam.
Às vezes impedem o sono.
E doem... dói o peito, doem os olhos, dói o coração...
São aquelas causadas na infância por abusos,
desamor, indiferenças, incompreensão.
Ou causadas pela perda irreparável de alguém
que era especial na vida da gente.
Ou pela mágoa causada por traições de pessoas
nas quais depositávamos toda a nossa confiança.
Todos os anos possíveis gastos em terapia
podem até amenizar o sentimento doloroso,
mas não apagar.
O tempo também não apaga.
Mesmo se a memória procura mil facetas de “esquecer”,
há sempre aquele dia em que um fato
ou qualquer outra coisa pode trazer tudo à tona.
Infelizmente, as centenas de mensagens de auto-ajuda
também não conseguem curar esse tipo de doença
que consome a alma. Remédios são inúteis,
quando não prejudiciais mesmo.
E então? Estamos condenados a viver
o resto das nossas vidas carregando essa “bola”
acorrentada nos pés,
como prisioneiros condenados?
Não necessariamente...
O primeiro grande passo é a vontade de se curar.
Sem isso, nada feito.
Ninguém pode fazer por nós o que
não desejamos nós mesmos.
Sabe-se que mesmo fisicamente uma pessoa
não pode curar-se sem que haja uma íntima vontade
e desejo de se estar curado.
Não são os médicos que fazem milagres,
eles fazem a parte deles.
Mas o maior trabalho fica por conta da própria pessoa.
Depois... só há um meio de apagar essas cicatrizes
que se abrem com freqüência:
entregar, inteiramente, nossos males
nas Mãos dAquele que
“verdadeiramente tomou sobre si
todas as nossas dores.”
Ainda assim não é fácil,
pois para entregarmos é necessário tirar
uma parte da gente e se desligar dela.
E o ser humano não está preparado para isso.
Não que ele não queira, mas porque não é mesmo fácil.
É necessário uma enorme força de vontade
e um amor profundo por si mesmo
e por aqueles que nos amam e querem
que estejamos bem.
É necessário tentar esquecer uma página do livro
da própria vida, rasgá-la, queimá-la.
E depois, é preciso aprender a viver sem essa parte,
viver uma vida nova e diferente.
É realmente difícil... mas possível!
É possível somente se a própria pessoa se dispõe a isso.
É algo pessoal, muito pessoal...
pessoal, entre Deus e nós...
Nos Braços de Deus
Letícia Thompson
O grau de confiança que possuímos em alguém depende de quanto conhecemos essa pessoa.
Tente fechar os olhos e se abandonar completamente, deixar-se cair, mas sem saber quem está atrás para segurar. Seu próprio corpo vai reagir e você vai tentar se controlar para não cair. É natural, você se controla, se defende.
Nossa total confiança em Deus vai depender do quanto conhecemos dEle. Precisamos agir da mesma forma como uma criança se joga nos braços da mãe, sorridente, feliz, inteiramente.
As pessoas só não se abandonam em Deus por que não conhecem o Deus que possuem. Não fazem experiências, por que não dão oportunidade a Deus de mostrar o quanto é fiel, o quanto cuida de nós.
Alcançar isso é alcançar a graça. É ver a luz no meio da tempestade e fixar os olhos nela.
Se eu disser que é fácil, estarei mentindo. Podemos encontrar forças para lutar contra o mundo inteiro, mas para lutar contra nosso eu e dizer a ele "descansa" precisamos de uma enorme dose de força-de-vontade, de fé, principalmente.
Portanto, creiam, quem faz a experiência uma vez estará nos braços de Deus pelo resto dos seus dias.
COISAS ESQUECIDAS
Letícia Thompson Coisa boa é o tempo de namoro. Tempo quando sentimos que somos importantes. O outro preocupa-se, telefona, faz carinho, diz coisas ridiculamente lindas ao nosso ouvido, faz surpresas, dá a mão e beijos intermináveis.
Mas a longa convivência vai apagando aos poucos o essencial de um relacionamento. Acostuma-se tanto ao outro que certas coisas perdem o sentido.
Esquece-se do beijo na saída e na chegada. E... de antes de dormir.
Esquece-se do abraço bem apertado que diz tanto sem dizer nada.
Esquece-se de datas importantes e comuns aos dois.
Esquece-se de andar lado a lado.
Esquece-se do te amo, do estou feliz porque tenho você.
Esquece-se do poder de uma flor.
Esquece-se... do namoro!
Fala-se do passado como do bom tempo. Mas... passado!
E as pessoas surpreendem-se por viverem tão afastadas vivendo juntas. Um se deita mais cedo, o outro mais tarde; um se levanta, o outro fica. Fazem amor por obrigação.
Culpa de quem? Dois dois. Quando há um problema entre um casal a culpa é fatalmente dos dois lados. Uma coisa conduz a outra.
E muitos casais seguem assim. Juntos, apesar de tudo, cada um do seu lado sofre interiormente de solidão. Cada um sonha, secretamente, com emoções esquecidas, com grandes paixões. E ninguém pensa em reacender a brasa. Ninguém pensa em reconquistar o que se tem, justamente porque se tem. Mas há tanto que pode ser feito!
Lembre-se das coisas esquecidas! Lembre-se do início. O que foi mesmo que te conquistou no outro? Inversamente, pense no que foi em você que conquistou o outro coração. Reaviva a chama!
Nunca permita que o essencial morra por causa de trabalho, estresse, filhos e atividades extras.
É essencial estar juntos. Mas, mais que isso, amar juntos de amor inteiro.
É preciso cuidar do amor como se cuida de algo frágil. A pessoa amada não faz parte dos móveis da casa. Cuide dela e cuide-se. Antes que a vida a dois caia no esquecimento.
Não se esqueça de lembrar-se das coisas esquecidas! Amor não é só coisa para os jovens não. Paixão faz bem em qualquer idade. Carinho nunca é demais. Atenção cativa. Reaprenda a amar aquela pessoa que um dia fez bater seu coração mais forte.
Muitas coisas podem ficar esquecidas. Mas o amor, ele mesmo, nunca se esquece! |