ALARMES

Jota Há

Francamente, estou alarmado com tantos alarmes. Já rodei por muitas cidades e capitais deste imenso Brasil. Mas como aqui nunca vi tantos, se fosse feito um levantamento esta cidade ganharia de todas. Um dos bons negócios aqui deve ser vender alarmes. Os nativos desta cidade demonstram gostar mais do alarme instalado em seu carro do que do próprio. Chegam a exibi-los. Entre eles parece ser uma questão de “status”. Portanto, nem pensar que aqui um carro esteja circulando sem que o alarme esteja instalado. É provável que circule sem uma roda, mas sem o alarme nunca.

Mas em matéria de alarmes não ficam nisso não, nas entradas de prédios, nos corredores, enfim, qualquer lugar com uma portinha tem um alarme. Eles conversam, eles falam sobre isso. É, alarme aqui é assunto para conversas – é alarmante. É impressionante, o prédio em que moro, não comporta porteiro, muito menos elevador, são quatro andares. Existe uma porta que vamos chamá-la de geral, serve ao corredor que dá acesso a todas as demais entradas do prédio, com exceção da garagem é óbvio que, possuí também seu portão principal. A porta que eu chamei de geral não possuí alarme, nem chave, só trinco, não sei por quê. Todas as demais possuem. E o que é pior um alarme complicado, talvez seja o tipo que eles mais gostam. Só que até agora eu ainda não descobri para que sirvam todos estes alarmes no prédio. Falta de imaginação, talvez. No início eu comecei a imaginar que entre o revendedor de alarmes e os síndicos houvesse uma espécie de …, bem, deixa isso pra lá. Deve ser porque eu venho de outras bandas e estou sempre comparando às coisas, afinal nem todos são políticos. Mas agora eu acho que tem sim, esse gostar tanto, não pode ser a troco de nada, principalmente que os alarmes são todos da mesma marca e estão infestando todos os prédios da vizinhança.

O que também não consegui descobrir é qual é a utilidade desses alarmes. É bastante comuns durante o dia, ou mesmo à noite os alarmes dispararem, tocam às vezes mais de cinco minutos, tempo suficiente, acho eu, para provar que os alarmes são completamente desnecessários. Ora, se ninguém dá a mínima atenção, por que os alarmes? Será que os ladrões já sabem disso? Eu chego a imaginar que eles ouvem o alarme como eu ouço música. Tantos são os aficionados. Há aqueles que vão mais longe. Também na porta do apartamento eles têm outro alarme.

E o que é pior, por vezes esquecem a chave do alarme principal trancada no apartamento. Voltam tarde da noite – o que seria normal – se tivessem levado todas as chaves, mas não é isso que acontece. Aí abrem à porta, sobem correndo três lances de escadas para pegar a chave do alarme. Quando abrem à porta do apartamento o alarme principal começa a tocar, descem correndo para ir desligar o alarme, nesse ínterim começa a tocar o alarme de sua própria porta. Sobem novamente correndo para desligar – agora o seu particular. Parece uma sinfonia inacabada. Sem contar o incomodo que causa aos vizinhos, no caso eu um deles. Gastar dez minutos, como eu já cronometrei, para entrar em seu próprio apartamento, convenhamos… Será masoquismo ou só gosto doentio por alarmes? Será que nas geladeiras deles também tem?

“Do bem que sempre fiz, nunca busquei o preço, do mal que nunca fiz, sofro a condenação…”

Emilio de Menezes