Procurei, procurei mas não consegui encontrar nenhum site brasileiro que trate da Psicologia Narrativa. Nem nas faculdades de Psicologia existe tal questionamento - talvez em disciplinas como Psicoterapia Familiar, Psicologia Social, Psicologia Cognitiva (ou quem sabe em uma hipotetica materia chamada Psicologia Pós-moderna), alguns poucos heróis consigam encaixar tal assunto no conteúdo de suas ementas.

Na verdade a Psicologia Narrativa é um novo rotulo para diversos estudos que consideram a formação da subjetividade, a partir de co-construções narrativas. Já faz algum tempo que este termo vem sendo utilizado pelos Terapeutas Familiares, que influenciados por Barnet Pearce (o cara que inventou o Construcionismo Social) e um famoso artigo de Anderson & Goolishian, tentam se distanciar (o termo correto seria “criar uma identidade”) dos pressupostos do Gregory Bateson e da escola de Palo Alto (que foi um dos mais brilhantes grupos de terapeutas familiares e cuja sede era em Palo Alto, California). O artigo em questão é o Human Systems as Linguistic Systems, que faz duras criticas ao “Ciberneticismo” de Bateson ao afirmarem que esta perspectiva estava impedindo o desenvolvimento da terapia familia pois os teoricos apenas discutiam algumas questões clássicas como o “poder x idéia de poder“, retroalimentação, homeostase etc. Ao renegarem Bateson e com a adoção de novas metaforas - como a da interação humana como um acordo narrativo - para a descrição dos fenomenos familiares eles acreditavam que estes “impasses” seriam superados. Sim, a meu ver, superaram estes impasses, mas empobreceram a discussão, afinal se mudam as metaforas mas os problemas permanecem os mesmos… As idéias do Bateson são insuperaveis. Eis um site que aprofunda esta questão. Ora a leitura de Bateson da “Realidade” é algo impressionante. Sua forma aparentemente displicente de abordar complicadas questões metafisicas possuem uma beleza que nunca mais vi em nenhum pensador.

A Psicologia Narrativa seria então a extrapolação deste “estudo de narratividades” para além do campo da terapia, indo também para a Psicologia Social, do desenvolvimento, Antropologia e etc. Este pessoal valoriza muito o psicólogo Jerome Bruner (que estará completando 90 anos), que produziu algumas obras de referencia neste assunto.

Recentemente tive um projeto de pesquisa sobre este fascinante tema sumáriamente recusado em um prestigiado mestrado aqui da Bahia. O titulo do projeto era “O educador como produtor de mapas da realidade: Uma análise dos paradoxos da interação na sala de aula”. Deverei estar falando mais sobre isto aqui brevemente…

Links recomendados:

Narrative Psychology - provavelmente um dos melhores sites sobre o assunto. Constantemente atualizado, ponto de partida para qualquer estudo sério sobre o assunto. Em inglês.

La Narrativa en la Terapia Cognitiva Post-Racionalista - Uma explanação do que seria o movimento narrativo dentro da Psicologia (com uma atenção especial a Terapia Cognitiva). Em espanhol.

Exemplo de um curso de Psicologia Narrativa - que vem sendo ministrado numa Universidade italiana (Prof. Stefania Stame) - pode ser que existam outra mas não encontrei. Em italiano.

Pós-modernidade, politica e educação - página do Prof. Dr. Holgonsi Siqueira com muitos artigos sobre este assunto que ninguém sabe definir bem o que é.

Livros recomendados:

BATESON, Gregory. Steps to an ecology of mind. New York: Ballantine Books Inc, 1973.

BATESON, Gregory. Mind and Nature. Toronto - New York - London: Bantam Books, 1980.

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. 11° ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

BRUNER, Jerome. Realidade Mental, Mundos Possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

GOODMAN, Nelson. Maneras de hacer Mundos. Madrid:Visor, 1990.

SCHNITMAN, Dora Fried (org.). Novos Paradigmas, Cultura e Subjetividade. Porto Alegre: Artes médicas, 1996.

WATZLAWICK, Paul. How Real Is Real: Confusion, Disinformation, Communication. New York: Vintage-Random, 1977.

WINKIN, Yves. A nova comunicação: Da teoria ao trabalho de campo. Campinas, SP: Papirus, 1998.