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Paço do Rosário
(Oswaldo Montenegro)
Beira de rio Paço do Rosário se avista ao longe as ruas tortas
vão se desenhando pelo arraial Eh, beira de rio Paço do Rosário limitando a agreste Sua janela, velha doca de barrica e pau Eh, água barrenta rolando sem pressa consumindo a terra O pôr-do-sol avermelhado Paço do Rosário Eh, na velha igreja já são seis da tarde o povo reza o terço Ave Maria, Mãe do Céu - cruz credo, quem me mata é Deus Eh, murmúrio lento, como prece aflita, vai descendo o rio Acompanhando o dia que se vai buscando o anoitecer E anoitecendo, Paço do Rosário, quase silencia A velha estátua caída na praça, mais um dia Eh, velha rameira deixa a vela acesa por Virgem Maria Ave Maria, Mãe do Céu - crus credo, quem me mata é Deus
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Verde
(Oswaldo Montenegro)
Verde, verde, folha desabada Doida cor sem ter qualquer razão de ser Mágica das coisas, das verdes coisas Dos olhos verdes de quem vê Hortelã dos chás, dos beijos verdes Doida flor sem ter qualquer razão de ser Lógica das coisas, das novas coisas Dos olhos verdes de quem vê Doce maçã da saúde e água Doido amor sem ter qualquer razão de ser Ávida das moças, das novas moças Dos olhos verdes de quem vê
Ilha não é só um pedaço de terra cercado de água por tudo quanto é lado. Ilha é qualquer coisa que se desprendeu de qualquer continente. Por exemplo: um garoto tímido abandonado pelos amigos no recreio, é uma ilha. Um velho que esperou a visita dos netos no Natal e não apareceu ninguém, é uma ilha. Até um cara assoviando leve, bem humorado, numa rua cheia de trnsito e stress, é uma ilha. Tudo na gente que não morreu, cercado por tudo o que mataram, é uma ilha. Toda ilha é verde. Uma folha caindo é ilha cercada de vento por tudo quanto é lado. Até a lágrima é ilha, deslizando no oceano da cara.
Como rã saltando é folha verde Doido acordo tem qualquer razão de ser Plástica dos olhos, dos verdes olhos Dos olhos verdes de quem vê
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João o Vigilante
(Oswaldo Montenegro)
Ele vive saltando, João Vigilante pulando os arames farpados buscando tesouros guardados querendo brincar com você Pela partitura do velho soneto ou mudando o tom: viver por menos que fosse pela maravilha do beijo molhado do sangue apressado a correr sobre o teu coração
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Paço do Rosário
(Oswaldo Montenegro)
Beira de rio Paço do Rosário se avista ao longe as ruas tortas
vão se desenhando pelo arraial Eh, beira de rio Paço do Rosário limitando a agreste Sua janela, velha doca de barrica e pau Eh, água barrenta rolando sem pressa consumindo a terra O pôr-do-sol avermelhado Paço do Rosário Eh, na velha igreja já são seis da tarde o povo reza o terço Ave Maria, Mãe do Céu - cruz credo, quem me mata é Deus Eh, murmúrio lento, como prece aflita, vai descendo o rio Acompanhando o dia que se vai buscando o anoitecer E anoitecendo, Paço do Rosário, quase silencia A velha estátua caída na praça, mais um dia Eh, velha rameira deixa a vela acesa por Virgem Maria Ave Maria, Mãe do Céu - crus credo, quem me mata é Deus
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A Dança dos Signos
Aos Filhos de Áries (Oswaldo Montenegro)
Áries o primeiro signo do carneiro apaixonado tem em Marte seu designo e no fogo seu reinado nas estrelas seu delírio seu amor enciumado nos limites seu martírio seu mistério revelado louco signo das correntes de emoções arrebatas ariana dos repentes explosões descontroladas ariana como o fogo nunca será dominada decisiva como o jogo e a primeira namorada signo da sinceridade da vermelha cor do dia signo da velocidade da impulsão e eu nem sabia que era tanta madrugada a derramar no coração como a rosa serenada se transforma e pinga ao chão derretendo ao fogo da paixão
Aos Filhos de Touro (Oswaldo Montenegro/Xico Chaves)
Topei com a estrela bailarina na rua dançando um rock em frente a uma vitrine toda sexy vidrada num anúncio de batom no vidro preso com durex (dura lex - sed lex) um carro, um vestido e um brinco de ouro presente de um rico industrial do signo de touro (dura lex - sed lex) quando é touro é um meio fecundo em cada semente plantada um sorriso de gratidão quando é touro é um meio fecundo em cada semente plantada um sorriso de gratidão haja bom tempo ou não
Aos Filhos de Gêmeos (Oswaldo Montenegro)
Curioso, dispersivo você sempre tem algo a dizer signo dos opostos signo dos vizinhos gêmeos há de ser: cada planeta, cada riso em cada esquina que houver cada extremo reunido cada homem gêmeo da mulher. Gêmeos como a luz do dia é vizinha do anoitecer gêmeos chuva, e quem diria o sol que brilhará dor e prazer cada planeta, cada riso em cada esquina que houver cada extremo reunido cada homem gêmeo da mulher
Aos Filhos de Cncer (Oswaldo Montenegro)
Caranguejo, signo da última estação do segundo lugar do primeiro desejo que não há como dissimulando se esconder no porão caranguejo da canceriana solidão de horizontalizar do canteiro de beijos que não dá como dissimulando se esconder no porão do ser caranguejo cada vez que a gente se encontrar no cio pode ser que não, mas eu quase adivinho que no coração alguém vai batucar caranguejo signo de quem só me chama de filho e do meu coração, e do Gilberto Gil Caetano é leão e sempre vai reinar (pois é) caranguejo símbolo da réplica fusão do que não caberá mas no primeiro ensejo brilhará como volatizando se ascender um balão caranguejo símbolo da réplica fusão do que não caberá mas no primeiro ensejo brilhará como volatizando se ascender um balão pro céu
Aos Filhos de Leão (Oswaldo Montenegro)
Cada diamante ama o sndalo e o cravo ama o ouro, e alaranjado o globo azul rodeia o sol cada diamante imita a mágica das tropicais florestas onde reina o leão, Deus dos animais cada brilho seu reflete o coração dourado o fogo, o poder, a vitalidade, o pai cada raio seu forma uma rua que vai dar na luz da lua doces caminhos astrais
Aos Filhos de Virgem (Oswaldo Montenegro)
Virgem como a natureza do desconhecido virgem como quem se muda e como quem virá virgem como a fruta esperando a tal mordida virgem como o garoto que espera atento a hora do jantar virgem como a nuvem que ainda não choveu e o guia e como é virgem toda noite enquanto o dia não pintar virgem como a tela branca da pintora linda ainda é virgem como a lua antes do sol iluminar virgem como o olho de quem não dormiu e o guia virgem como a planta do pé de quem não andar virgem como o pássaro desvirginou o dia quando desenhou no céu o mapa de onde o sol pode brilhar virgem como a música do cantor que era mudo e como o passarinho é virgem quando não puder voar virgem como a bailarina sem coreografia e como a pérola azulada que ainda não saiu do mar
Aos Filhos de Libra (Oswaldo Montenegro)
Era de libra como a lua vista assim é de cor de sal era de libra como a luz das sete estrelas forma algum sinal era de libra quando dá um passo atrás pra caminhar legal era a balança universal era harmonia como o ritmo da vida e o carnaval era de libra como a brisa quando passa e ondula o trigal mas tinha medo de saber que o jogo da verdade era fatal era a balança universal era de libra e amava a paz e a justiça natural era de libra pra poder unir a idéia ao seu material o simbolismo da figura da mulher paixão arterial era a balança universal era de libra como a valsa, o antigo Egito e afinal era de libra e tem a crença da beleza e do encanto geral a natureza da firmeza e oscilação a simpatia e tal era a balança universal
Aos Filhos de Escorpião (Oswaldo Montenegro)
É o reino da força vermelho é a cor do teu coração ferro em brasa na casa da morte é o escorpião a força criadora que habita o mundo o animal da auto-regeneração o homem que renova, signo fecundo o fim planta o início é a transmutação cabala do grande sinal cabala da força do ....
Aos Filhos de Sagitário (Oswaldo Montenegro)
Era claro e sábio era manso, metade animal e livre como ancião que já não teme o final e eu amava, amava adormecia com gosto de sal na boca e amava assim com a devoção natural dos deuses, dos animais Ah! quanto tempo atrás Ah! quantas noites passei a galopar em você doce centauro, amo você doce centauro ...
Aos Filhos de Capricórnio (Oswaldo Montenegro)
Madrepérola de cor a teimosia tá no ar signo da terra, da percussão a dúvida não tem lugar signo de capricórnio, ser ser como se fosse escalar a montanha negra do dia a dia não saberia sonhar signo da segurança total signo da persistência, e afinal na versão mais infinita do ser capricórnio inda precisa aprender que da estranha forma do caracol foi que se inventou a clave de sol simbolismo do prazer tudo mágica ser
Aos Filhos de Aquário (Oswaldo Montenegro)
Brilho do signo do novo do futuro - aquário silfos da magia - ar virão serpentina da revolução brilho do signo do novo do futuro - aquário
Aos Filhos de Peixes (Oswaldo Montenegro)
É peixe quando pula e descortina a clara possibilidade de mudar de opinião é peixe quando sem ligar a seta muda o rumo inverte a coisa, embola o pensamento e então ... é peixe quando o germe da loucura se transforma em claridade e anda pela contramão é peixe quando anda no oceano de quarenta correntezas sem nenhuma embarcação é peixe quando salta o precipício da responsabilidade e tem uma queda pra ilusão é peixe quando anda contra o vento, desafia o sofrimento e carrega o mundo com a mão é peixe quando a luz do misticismo se transforma na procura do princípio e da razão é peixe quando anda no oceano de quarenta correntezas sem nenhuma embarcação
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METADE DE MIM
Que a força do medo que tenho Não me impeça de ver o que anseio; Que a morte de tudo em que acredito Não me tape os ouvidos e a boca; Porque metade de mim é o que eu grito, Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe Seja linda, ainda que tristeza; Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada Mesmo que distante; Porque metade de mim é partida Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo Não sejam ouvidas como prece E nem repetidas com fervor, Apenas respeitadas como a única coisa que resta A um homem inundado de sentimentos; Porque metade de mim é o que ouço Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora Se transforme na calma e na paz que eu mereço; E que essa tensão que me corrói por dentro Seja um dia recompensada; Porque metade de mim é o que penso Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste E que o convívio comigo mesmo Se torne ao menos suportável; Que o espelho reflita em meu rosto Um doce sorriso que me lembro ter dado na infncia; Porque metade de mim é a lembrança do que fui, A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito E que o teu silêncio me fale cada vez mais; Porque metade de mim é abrigo Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta Mesmo que ela não saiba E que ninguém a tente complicar Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer; Porque metade de mim é platéia E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada Porque metade de mim é amor E a outra metade... também.
(Oswaldo Montenegro)
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Letras Brasileiras
Dez mil rubis mil pedras turmalinas cem mil cometas um milhão de sóis dez mil Joões mil vidas severinas cem mil poetas, todos eles sós em procissões, natais e serpentinas dez mil mãos postas mães, irmãos, avós a esperança é profissão e sina ensina laços a fingir de nós são cem cavalos, dez luzes na crina são luas, muitas luas e faróis são mil perdões, que aos bons não se incrimina cem mil poetas, todos eles sós televisões em cada casa e em cima parece um bicho a antena e cada voz parece voz que nunca desafina na serenata para o seu algoz milhões de versos, cem milhões de rimas no mesmo mar são dez milhões anzóis pescando alma em dós, bordões e primas cem mil poetas, todos eles sós. | | |
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Estrelas
Pela marca que nos deixa A ausência de som que emana das estrelas Pela falta que nos faz. A nossa própria luz a nos orientar Doido corpo que se move É a solidão dos bares que gente freqüenta Pela mágica do dia Que independeria da gente pensar Não me fale do teu medo Ah! eu conheço inteira tua fantasia E como se fosse pouca A tua alegria não fosse bastar Quando eu não estiver pôr perto Canta aquela música que a gente ria É tudo que eu cantaria E quando eu for embora você cantará.
Oswaldo Montenegro
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A Feira
(Oswaldo Montenegro/Mongol)
Compre aqui bom e barato Vendo coisas de valor Meu produto é sua festa Pague um riso adiantado Dou-lhe um beijo se é bonita Até vendo a prestação Dou de graça uma risada Teu sorriso é meu sustento Domingo é dia de festa A feira já começou A morte eu vendo à vista, moço A vida à prestação Meu preço é justo e correto Minha medida é de lei Só não lhe vendo esperança, moço Pois isso ninguém mais tem
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Rapunzel
(Oswaldo Montenegro)
De toda janela de toda flor retirar o que for demais o que sobra a trança excessiva lança!! quem vai pegar? Por todo cabelo, por onde for chegar a paixão escala a parede é dança sem rede lança!! quem vai pegar? Canta, canta quem vem lá? Canta,canta!! quem vem lá?
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Lua e Flor
clic
Eu amava como amava um cantor
De qualquer clichê, de cabaré, de lua e flor
Eu sonhava como a feia na vitrine
Como a carta que se assina em vão
Eu amava como amava um sonhador
Sem saber porque, e amava ter no coração
A certeza ventilada da poesia
De que o dia amanhece e não
Eu amava como amava um pescador
Que se encanta mais com a rede que com o mar
Eu amava como jamais poderia
Se eu soubesse te contar
Eu amava como amava um cantor
De qualquer clichê, de cabaré, de lua e flor
Eu sonhava como a feia na vitrine
Como a carta que se assina em vão
Eu amava como amava um sonhador
Que se encanta mais com a rede que com o mar
Eu amava como jamais poderia
Se eu soubesse te contar
Eu amava como amava um pescador
Que se encanta mais com a rede de que com o mar
Eu amava como jamais poderia
Se soubesse te contar
Oswaldo Montenetegro
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Maria, A Louca
(Oswaldo Montenegro)
Maria tem fogo na mente Seu corpo na espera que o dia não passe Que a noite não venha pois dorme sozinha Encolhe seu corpo de encontro a parede O gosto salgado de quem já chorou Lhe rola na face lhe causa agonia E por ironia lhe chamam Maria Maria que até já foi nome da mãe do Senhor Agora é sem nome É mãe seu doutor mas nem sabe de quem Só sabe que um dia foi linda Maria Maria de festa, de noite, de dança De rosto rosado e vestido bonito Maria prendada que agora é perdida Maria que chamam de louca Virou brincadeira da turma da rua Soltou gargalhada deitou na calçada Deu grito infinito gemido profundo De tão contraído seu rosto se abriu E se encheu de ternura pois é quem diria Da louca Maria restou a poesia Da moça Maria restou a mulher, Maria
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A Bailarina Gorda
(Oswaldo Montenegro)
Como toda bailarina ela sonhava Com mil saltos mortais Os dedos do destino a desenharam Gorda demais. Cada bola de sorvete é tanta culpa Era remorso demais E o mais lindo vestido está guardado, Gorda demais. Cada salto ou pirueta era um desastre Eram risadas gerais E os olhos do menino que ela amava Amavam magras demais. Cada abraço um arrepio Ai, por um fio ele me apalpa por trás E sente a carne mole, frouxa A coxa gorda demais
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A LISTA
Faça uma lista de grandes amigos Quem você mais via há dez anos atrás Quantos você ainda vê todo dia Quantos você já não encontra mais Faça uma lista dos sonhos que tinha Quantos você desistiu de sonhar Quantos amores jurados pra sempre Quantos você conseguiu preservar Onde você ainda se reconhece Na foto passada ou no espelho de agora Hoje é do jeito que achou que seria? Quantos amigos você jogou fora Quantos mistérios que você sondava Quantos você conseguiu entender? Quantos defeitos sanados com o tempo Eram o melhor que havia em você Quantas mentiras você condenava Quantas você teve que cometer Quantas canções que você não cantava Hoje assobia pra sobreviver Quantos segredos que você guardava Hoje são bobos ninguém quer saber Quantas pessoas que você amava Hoje acredita que amam você.
(Oswaldo Montenegro)
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De Barcos e Névoas
(Oswaldo Montenegro)
De madrugada o barco some do cais da neblina Oh meu amor, se lembre da gente sem mágoa Sem águas do passado, umedecendo a crina Dos alasões futuros ainda não amansados Outras paixões enxarcam o olho mas minha retina Conserva o lago onde você deságua Eu descobri que uma paixão termina Se a gente quiser saber quando acaba Oh meu amor, quando é que o amor termina?
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Enviado: 17/10/2006 16:10 |
Bandolins
Como fosse um par que nessa valsa triste se desenvolvesse ao som dos bandolins e como não E por que não dizer que o mundo respirava mais se ela apertava assim seu colo e como se não fosse um tempo em que já fosse impróprio se dançar assim ela teimou e enfrentou o mundo se rodopiando ao som dos bandolins
Como fosse um lar seu corpo a valsa triste iluminava e a noite caminhava assim e como um par o vento e a madrugada iluminavam a fada do meu botequim valsando como valsa uma criança que entra na roda a noite tá no fim, e ela valsando só na madrugada se julgando amada ao som dos bandolins
Oswaldo Montenegro
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